Em entrevista à sua medida, Bolsonaro é docilizado e parabeniza Palocci
Em entrevista exibida pela TV Record no mesmo horário do debate entre os presidenciáveis na TV Globo, o candidato Jair Bolsonaro (PSL) não foi pressionado, recebeu perguntas propícias para expor suas pautas e foi exibido como uma figura dócil, ainda fragilizada devido à facada que recebeu no início de setembro.
Bolsonaro foi proibido por seus médicos de participar do debate por estar em recuperação após ser esfaqueado.
Na terça-feira (2), o bispo Edir Macedo, proprietário da TV Record, manifestou apoio a Bolsonaro. O anúncio da entrevista revoltou os adversários do capitão reformado. As coligações de Fernando Haddad (PT), de Henrique Meirelles (MDB) e de Guilherme Boulos (PSOL), além do deputado Wadih Damous (PT-RJ), pediram ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que a exibição da entrevista fosse proibida.
Eles alegaram que levar a entrevista com Bolsonaro ao ar infringia as normas de conduta para as televisões. O ministro Carlos Horbach liberou a veiculação da entrevista.
Nela, Bolsonaro apareceu em sua casa, no Rio, e encaminhou a entrevista com a mesma estrutura de suas recentes aparições públicas. Começou falando do ataque a faca recebido em Juiz de Fora e de sua vontade de estar nas ruas fazendo campanha. Ele ressaltou que, por "determinações médicas", deverá evitar excessos.
Na sequência, voltou sua mira ao PT, adiantando a estratégia de atacar Fernando Haddad, possível adversário em um eventual segundo turno. Ele chamou Haddad --que ao mesmo tempo falava na TV Globo-- de "fantoche do senhor Lula".
Em mais uma passagem já conhecida de sua estratégia eleitoral, Bolsonaro disse que unirá o povo brasileiro, que, segundo ele, teria sido dividido pelo PT. Ele argumenta que o país foi separado em caixas entre negros e brancos, ricos e pobres, e, por fim, pais e filhos. Segundo ele, a "lei da palmada", ao não permitir castigos físicos aos filhos, voltaria uns contra os outros.
O candidato do PSL ainda disse que "um ou outro" de seus seguidores espalha notícias falsas, mas que ele não tem controle sobre eles e não pode levar a culpa por isso. Nesta quinta (4), Haddad associou Bolsonaro à disseminação de "fake news".
"Eu não tenho controle sobre milhões de pessoas que me seguem. Um ou outro acaba extrapolando, agora quando um seguidor meu extrapola a culpa cai em cima de mim como se eu fosse um capitão e tivesse uma tropa ao meu comando para c cumprir exatamente aquilo que eu falo", disse.
Ele ainda se defendeu das acusações de que seja homofóbico, racista ou machista. Ao fim desse primeiro bloco de dez minutos, um enfermeiro interrompeu a entrevista e Bolsonaro parou para beber um copo de água.
No segundo bloco da entrevista, o candidato acusou os artistas que fazem parte do movimento #elenão, de repúdio à sua candidatura, de "mamarem na Lei Rouanet. Todos eles". Sobre as críticas ao 13º salário proferidas pelo vice de sua chapa, o general Hamilton Mourão (PRTB), ele disse que as palavras foram tiradas do contexto, e que nunca foi falado em acabar com o direito.
Bolsonaro ainda defendeu a revogação do estatuto do desarmamento (que, segundo ele, teria aumentado a violência) e fez a defesa da trinca dos valores da família, das religiões e da redução tarifária que sustentam boa parte de sua atuação nas redes sociais.
Após a entrevista ser interrompida mais uma vez pelo enfermeiro enquanto o entrevistador diz que ele mostra cansaço, Bolsonaro produziu o único momento surpreendente ao parabenizar o ex-ministro Antonio Palocci.
Ao ser perguntado se a decisão do juiz Sergio Moro levantar o sigilo de parte do acordo de colaboração de Antonio Palocci com a Polícia Federal poderia interferir no resultado das eleições, Bolsonaro respondeu positivamente.
"Sempre há impacto. Palocci já vinha colaborando. Ele foi um homem muito próximo do governo, ele conta as entranhas do poder. Não tem como ele fugir da verdade. Parabéns ao Palocci. Quem não erra como ser humano? Ele tenta corrigir seus erros com essas ações", disse o militar.