O PT, o partido que está acabando - REINALDO AZEVEDO
O PT começa a levar ao ar nesta terça-feira suas pequenas inserções do horário político gratuito. Serão veiculadas ainda nos dias 4, 6, 9 e 11 deste mês. Vão coincidir com a semana do Carnaval. Nem Lula, o homem mais honesto do mundo, segundo ele próprio, nem Dilma, a governanta mais capaz do mundo, segundo ela própria, estarão presentes. O Rei Momo também não vai dar as caras. O programa de 10 minutos, com a ausência igualmente garantida da dupla, ficou para o dia 23. Vocês vão ter de esperar até lá para o panelaço, que servirá de esquenta para o grande ato em favor do impeachment, marcado para 13 de março. As inserções de 30 segundos reservadas para essas duas primeiras semanas dão conta dos desatinos que tomaram o partido. Eu diria que o PT resolveu aderir ao que poderia ser chamado de microfascimo passivo-agressivo de exaltação. Vamos ver.
Num dos filmetes, o presidente do PT, Rui Falcão, alquebrado além da conta para seus 72 anos, afirma, para a crença de ninguém — a não ser, talvez, da militância mais fanática e ignorante —, que Lula “tem sido alvo de ataques, provocações e perseguições”. Os maus seriam “os preconceituosos de sempre”, que estariam perseguindo o herói porque este lutou para “melhorar a vida do povo brasileiro”. Segundo Falcão, que fala com voz mansa, de quem conta uma historinha infantil, esses malvadões não aceitam que Lula continue a “morar no coração do povo brasileiro”. Ou por outra: investigar o petista é ser contra a justiça social. Entenderam? Alguém ainda cai nessa conversa?
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Contra partidos Um programa que é partidário, garantido pela legislação que dá às legendas o direito de ocupar os meios de comunicação, o que custa aos cofres públicos algo em torno de R$ 1 bilhão por ano, faz, vejam vocês, a apologia da despolitização. Um dos vídeos assegura que a tarefa dos brasileiros “é ajudar o país; não é para ficar brigando nem por poder nem por partido, não”. Os petistas querem que os brasileiros esqueçam que o país é governado pelo… PT.
Todos contra a crise O mais estúpido dos textos, no que concerne à história, é um que assegura que a crise faz parte de todos os países e que estes só a venceram com trabalho e união. Logo, não critique nem conteste o governo. Vamos todos nos juntar. E então se listam os problemas que os brasileiros já venceram: “a escravidão, a ditadura, a hiperinflação e a pobreza extrema”. Os exemplos são tão despropositados que nem chegam a ser errados. Trata-se apenas de uma bobagem.
Se estamos todos juntos, contra quem vamos lutar Quando eu era menino e pertencia a um grupelho de esquerda , contestávamos os que pregavam “união episódica com adversários da burguesia” com um refrãozinho: “Se estamos todos juntos/ contra quem vamos lutar?” Fiquei com vontade de cantarolá-lo de novo ao ver um dos vídeos. Um monte de gente com bandeiras coloridas, simbolizando diferenças de opinião, se junta alegremente para formar o mapa do Brasil. E diz o locutor ao fundo: “Todo mundo tem o direito de defender as suas ideias. Mas tem uma hora em que a gente tem de ser maior do que nós mesmos. Em que a gente precisa conversar, ir além das nossas opiniões”. Do ponto de vista lógico, é o mais bucéfalo, uma vez que sustenta, ora vejam, que defender uma ideia é, então, ser menor dos que nós mesmos e que, para conversar, é preciso abrir mão de uma opinião. Entenderam a que chamo de “microfascismo passivo-agressivo de exaltação?”
Patacoada O PT que instituiu na luta política a guerra permanente do “Nós (eles) contra Eles (nós)”, descobriu agora as virtudes da união de forças.
Vai ver Dilma Rousseff não dá as caras no programa porque traria à memória dos brasileiros as acusações que fez a seu principal oponente em 2014, o tucano Aécio Neves. Ela o acusou de pretender pôr em prática algumas das medidas a que ela se viu obrigada em razão de erros cometidos no seu primeiro mandato e de outras bobagens feitas por seu antecessor. Na disputa, Dilma deixou claro que ela encarnava o “Bem” e que o outro representava o “Mal”.
“Ah, em disputa eleitoral, é assim mesmo!” Errado! Mentir com a determinação com que se mentiu na disputa de 2014 é coisa inédita na história brasileira e, creio, das democracias ocidentais.
A verdade A verdade é bem outra. O caminho que o PT propõe é justamente aquele que não conduz a lugar nenhum porque significa um país incapaz de fazer escolhas.
Então um dos filmetes petistas acusa uma grande conspiração contra Lula, comandada por aqueles que não aceitariam a justiça social que ele praticou, e o partido propõe, nos demais vídeos, que todos nos unamos, acima das diferenças?.
A propósito: essa união implica garantir a Lula a inimputabilidade e a impunidade?
Lula está morto. E o PT está acabando.
Duas boas notícias.