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A santíssima trindade da democracia

O ex-governador e ex-ministro Cristovam Buarque, em palestra recente, afirmou que são três os pilares da sociedade democrática: família, escola e mídia. Essas seriam, para ele, a Santíssima Trindade da democracia. Avaliando a trindade de Buarque no Brasil, concluímos que estamos muito mal.

Os valores da família estão sendo desconstruídos diariamente em favor do predomínio do individualismo. A solidariedade e a gratidão, valores essenciais da humanidade, deram lugar ao consumismo desenfreado e à busca — quase compulsória — de comportamentos libertários apresentados como o caminho para a liberdade. Não há escolha e só resta aceitar essas direções impostas pela sub intelligentsia que domina as narrativas. Seja nas novelas, nas demais expressões culturais, no noticiário.

A escola, templo do saber, foi desmontada pelo corporativismo, pela baixa valorização profissional e pela ausência de reflexão em seu interior. Mas, sobretudo, pelo desinteresse das elites, que se refugiam nas escolas privadas da vida. Não é de hoje que os templos do saber na esfera pública são templos apenas de determinadas ideologias. Neles, o espaço para o contraditório praticamente inexiste, ou sobrevive sufocado pelo desinteresse de se estabelecer um diálogo.

Ao estudante sobram três opções: academias públicas dominadas pela visão esquerdista; escolas privadas de baixa qualidade; e algumas poucas academias privadas de elevada qualidade.

A mídia, em grande parte, reflete tal estado de coisas. Oscila entre os interesses de quem a dirige e a mentalidade quase hegemônica de esquerda, anticapitalista, ativista no patrulhamento e capturada por um suposto politicamente correto, o que transparece no noticiário. As reflexões são abandonadas em favor de reportagens em ritmo de aventura. A situação é dramática, já que a mídia tradicional naufraga, ameaçada pelas novas tecnologias e por não representar o pensamento da maioria da população. O vanguardismo midiático não se coaduna com a liberdade de expressão, já que ele atende, obrigatoriamente, ao objetivo de convencer, consternar e mobilizar.

Não é uma situação auspiciosa para o Brasil. O enfraquecimento dos valores familiares é um problema sério, por propor uma desagregação cujas consequências sociais já são sentidas. Um exemplo é a valorização cultural da bandidagem. Essa substituição dos valores familiares pelos valores midiaticamente propostos elimina a reflexão a partir de princípios que instruíram o processo civilizatório. A apologia do individualismo como norte da ação social nos remete a um passado institucionalmente desorganizado. Não é esse o caminho que o Brasil deveria seguir.

Murillo de Aragão / istoé

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