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Sem controle, violência impõe mudança de hábitos

Num estado que registra, por dia, uma média de 13 assassinatos, 429 roubos de rua, 153 de veículos, 28 de carga e 21 a estabelecimentos comerciais, não surpreende que essa epidemia de violência, em meio a uma grave crise financeira, altere comportamentos, force mudanças em serviços importantes e imponha novas regras aos cidadãos.

Os efeitos podem ser percebidos por toda parte. No comércio, no turismo — especialmente hotéis, bares e restaurantes — e serviços em geral. A disparada do número de roubos de veículos, por exemplo, está fazendo com que seguradoras recusem clientes ou aumentem o valor do seguro. A Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg)admite que companhias deixaram de atender a pelo menos cinco bairros do Rio: Cavalcante, Manguinhos, Sampaio, Pavuna e Rocha Miranda.

Da mesma forma, o aumento no número de roubos de carga — 23,6% este ano — tem penalizado moradores de alguns bairros do Rio. Empresas deixaram de fazer entregas para determinados CEPs alegando motivos de segurança.

Nem a fé escapa. No feriado de 12 de outubro, a Paróquia de Nossa Senhora da Boa Viagem, na Rocinha, cancelou a procissão de Nossa Senhora Aparecida por causa da guerra do tráfico que aterroriza a comunidade há quase um mês, afetando o funcionamento de escolas e postos de saúde. Na mesma Rocinha, uma agência da Caixa Econômica Federal fechou por tempo indeterminado em consequência “do clima de insegurança”.

As normas de trânsito também sentem o baque. Uma lei que entrou em vigor em maio deste ano determina o desligamento de pardais eletrônicos em áreas de risco, embora eles sejam um instrumento importante para a segurança do tráfego.

Até o samba abriu mão da tradicional boemia. Pelo menos quatro grandes escolas do Grupo Especial — Portela, Mangueira, Unidos da Tijuca e Mocidade — anteciparam seus horários de ensaios temendo perda de público.

 

O comércio procura se ajustar aos novos tempos. Um shopping na Barra da Tijuca reduziu em uma hora o período de funcionamento nos dias úteis. A decisão teria sido motivada pelos assaltos a funcionários na Avenida Ayrton Senna.

Uma pesquisa realizada pelo instituto Datafolha com moradores do Rio, entre os dias 3 e 4 de outubro, mostrou que 72% se pudessem deixariam a cidade por causa da violência. Nove entre dez entrevistados disseram que se sentem inseguros ao caminhar à noite pelas ruas.

O fato é que as autoridades de segurança não podem permitir que criminosos moldem a rotina de uma cidade de 6,5 milhões de habitantes. Combater a violência é essencial. O Estado precisa recuperar áreas perdidas para o crime e devolvê-las à população fluminense. Aliás, este será um dos desafios para o próximo governador: o eixo da reconstrução do Rio, em particular da cidade, passa pela restauração da capacidade do estado de exercer plenamente suas funções vitais em segurança, educação e saúde. O GLOBO



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