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'Lula não é inocente. No mínimo, foi promíscuo'

Acho que Lula sobrevive a essa condenação de Sergio Moro, continuando detentor da admiração e do carinho de boa parte do nosso povo, notadamente dos mais pobres. Chamar o eleitor de Lula de analfabeto político, pelo baixo nível de escolaridade, não resolve a equação. Ou é politizado o eleitor de Jair Bolsonaro, em sua maioria com curso superior? Os dois, estranhos objetos de desejo em campos opostos, diga-se, carregam ideias fortes, falsas ou não, que têm grande audiência no coração dos brasileiros.

No caso de Lula, assim como foi com Getúlio Vargas (1882-1954), sua força reside na imagem de que, com ele no Planalto, o pobre tem vez. E diga-se a favor do petista que, ao chegar ao poder, em 2003, mesmo reconhecendo que encontrou a casa arrumada e uma economia mundial de vento em popa, Lula governou para todos e ajudou a melhorar a vida de ricos e pobres. Ninguém perdeu dinheiro com ele na Presidência.

Só que tem o outro lado dessa história. Na transposição de São Bernardo do Campo para Brasília, o PT aderiu (ou foi conivente com) ao furto. Essa tragédia foi construída em nome da governabilidade, ou para atender a um projeto de poder duradouro do partido, ou por... safadeza, mesmo. Lula não é inocente. No mínimo, foi promíscuo.

Dois exemplos: Lula sabia perfeitamente quais eram as intenções de Sérgio Machado (ex-senador cearense, apadrinhado por Renan Calheiros) quando o nomeou para presidir a Transpetro, uma subsidiária da Petrobras que investe, por ano, uns R$ 10 bilhões. Os dois foram colegas na Câmara dos Deputados quando Luiz Inácio falou que, na Casa, havia uns 300 picaretas com anel de doutor (aliás, se era para ganhar o apoio do PMDB para governar, teria saído mais barato aos cofres públicos se Lula tivesse feito como FH, que em 1998 nomeou Renan para ministro da Justiça, um cargo que tem pompa, mas que não mexe com dinheiro ou empreiteiro).

Mais grave ainda, acho, foi a nomeação de Paulo Roberto Costa para diretor de Abastecimento da Petrobras, que, mesmo antes de assumir, já tinha má fama na estatal, tanto que o então presidente da casa, José Eduardo Dutra, ex-senador petista, falecido em 2015, tentou evitar que ele fosse escolhido.

Mas Lula, de olho nos votos do PP, preferiu nomear uma pessoa recomendada por dois notórios rapinantes — os deputados José Janene e Pedro Corrêa, este último hóspede de Moro numa cadeia em Curitiba.

Lula resolveu sair na chuva. E se molhou. / 

POR ANCELMO GOIS

/ OGLOBO 

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