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Temer tenta adiar desfecho e renúncia pode ser inevitável

Vera Maralhães, O Estado de S. Paulo

19 Maio 2017 | 05h40

O pronunciamento do presidente Michel Temer foi uma tentativa de ganhar tempo, mas o tom taxativo que ele tentou empregar à fala não eliminou a falta de sustentação política instantânea que atingiu o governo depois da revelação das primeiras informações das delações de Joesley Batista e demais colaboradores do grupo JBS. Temer apostou na divulgação dos áudios da conversa gravada por Joesley com ele para tentar negar que tenha avalizado o pagamento de mesada a Eduardo Cunha ou indicado o deputado e ex-assessor Rodrigo Rocha Loures como intermediário para a negociação de interesses da holding mediante pagamento de propina.

De fato, a transcrição do áudio é menos literal do que o divulgado inicialmente quanto ao suposto aval de Temer ao pagamento para calar Cunha mesmo depois de preso.

 

A frase de Temer – “Tem de manter isso, viu?” – é dita depois de Joesley relatar que está se “dando bem” com Cunha. A má qualidade da gravação não permite afirmar com certeza que Temer sabia que se tratava de pagamento. A falta de um vídeo impede saber se houve algum gesto indicando pagamento e uma frase do peemedebista é inaudível.

Ainda assim, o conjunto da conversa é gravíssimo e avassalador para o presidente. Ele ouve o empresário relatar crimes em série, como o pagamento de propina a um procurador da República para obstruir investigações, ou o “controle” de dois juízes com o mesmo fim, e nem sequer o admoesta. Também não toma providências posteriores. No mínimo, cometeu o crime de prevaricação.

Há que se analisar, ainda, o resto do conjunto probatório de posse do STF, no qual se baseou o ministro Edson Fachin para deferir a abertura de inquérito contra o presidente.

O flagrante de recebimento de propina por Rodrigo Rocha Loures depois de ter sido designado por Temer como interlocutor é igualmente letal para o presidente.

Temer adiou a renúncia, mas os desdobramentos da delação podem torná-la inexorável em poucas horas. Ele até pode refutar a literalidade das gravações, mas o derretimento político do governo não depende mais disso. O ESTADO DE SP / VERA MAGALHÃES

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