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Campo fértil para a bandidagem - Fábio Campos

O Brasil passou os últimos 20 anos afirmando a imperiosa necessidade de uma reforma política. Jamais a fez. Com o desenho que tem hoje, o sistema político brasileiro faliu. É incapaz de oferecer saídas para qualquer crise e só aprofunda os problemas. Como dizia a esquerda das antigas, o resultado é todo esse horror que está aí.

 

Como é usual, o que acontece no âmbito nacional se reproduz nos estados e nas prefeituras. Para vencer as acirradas disputas eleitorais, é preciso formar alianças com duas dezenas de partidos. Fechadas as urnas e contados os votos, outra leva de partidos, mesmo derrotada, passa a apoiar o vencedor.

 

Entre as eleições e a posse, os eleitos passam dois meses articulando a montagem de suas equipes de Governo. Tarefa dura. Como os projetos são apenas de poder, pelas regras informais do jogo, o partido que apoiou o vencedor precisa ser contemplado com cargos. Quem mais quiser apoiar e tiver representação parlamentar ou uns segundinhos na TV também será aquinhoado.

 

Os porta-vozes dos gestores eleitos (ou os próprios) garantem que as nomeações vão respeitar critérios técnicos. É conversa para boi dormir. Não há técnicos competentes e respeitáveis disponíveis para entrar nesse jogo político desprezível. Os que aceitam são políticos ou meros representantes dos mesmos. Nos cargos, costumam se reportar aos interesses – muitas vezes escusos - de quem os bancou politicamente. Com o beneplácito do gestor, é claro. A tragédia da Petrobras se deu exatamente por isso.

 

Atentem como a intricada engrenagem funciona. É preciso atender às necessidades de duas dezenas de partidos ou mais. É preciso também atender às necessidades do principal grupo político que bancou a eleição do vencedor. É preciso ainda atender às necessidades do grupo mais restrito de confiança do eleito.

 

Ajeita aqui, arranja acolá, acochambra ali. Criam-se cargos a rodo. A maioria, desnecessários e dispensáveis. Com eles, os assessores, os aspones e as estruturas, incluindo o carro com motorista, que ninguém é de ferro. O círculo, completamente sem virtudes, é dominado pelo vício. E se reproduz. E se enraíza.

 

Tem ali uns parlamentares de meia tigela querendo fazer oposição? A mensagem é rapidamente entendida. Promovem-se umas conversas de pé de orelha e pronto. Mais partidos anunciam adesão à base de apoio do Governo. A troco de quê? Ora, sabemos muito bem.

 

É tudo regiamente pago pelo contribuinte. Afinal, não há outra fonte de recursos que não seja a oriunda do trabalho dos cidadãos. O resultado já é bem conhecido pelos financiadores dessa farra política: qualidade medíocre dos serviços públicos, baixíssima técnica, amadorismo, corrupção, obras desnecessárias e tudo o mais.

 

É possível mudar esse quadro? Há alguém disposto a romper com o vício e mudar o rumo das coisas? Disposto a dizer “não” e assumir as atitudes de um estadista que se preze? Difícil. O pessimismo se espraia quando se sabe que as forças políticas que prometeram o maná divino e uma nova cultura política se lambuzaram a farta.

 

As coisas podem piorar? Claro que sim. Vêm aí as eleições municipais. Todos os vícios citados acima vão se reproduzir, claro. Porém, haverá um componente novo. Com as doações privadas proibidas, a política vai encontrar formas de levantar a grana para bancar as campanhas. O campo será mais fértil para a bandidagem.

 

Há é claro as exceções de sempre. opovo

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