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Firmes no atraso / Opovo

Entre os oito Objetivos do Milênio (conjunto de metas que deveriam ter sido alcançadas em 2015) estipulados há 15 anos pela ONU, um deles em especial (“Garantir a sustentabilidade ambiental”) apresentou resultados que indicam de forma irrefutável o quanto o Brasil ainda mantém indicadores típicos do subdesenvolvimento. No âmbito da questão ambiental, o saneamento é um ponto que merece especial atenção. Por todos os parâmetros, o quadro nessa área é crítico. Hoje, na média, apenas 49% da população brasileira têm acesso a esgoto sanitário coletado de forma adequada. Incluam-se nesse rol as questionáveis fossas sépticas. Os dados são do Instituto Tratar. Olhando a questão pelo lado inverso, significa dizer que 51% dos brasileiros não têm acesso aos serviços de esgoto. Ou seja, estão submetidas a padrões comuns à Idade Média. São evidentes e conhecidos os problemas que o não acesso ao saneamento provoca na saúde pública.

Essa situação escandalosa se relaciona com a forma como os governantes tratam os projetos de saneamento básico no Brasil. Pauta política e administrativa comum nos anos 1980 e 1990, inclusive defendida com ardor pela esquerda, o tema foi quase completamente abandonado a partir do ano 2000. A opção cara e pouco inteligente foi gastar dinheiro com a construção de hospitais.

No Ceará, o último grande projeto de saneamento é da década de 1990, quando o Governo do Estado fez o “Sanear” em Fortaleza. De lá para cá, apenas projetos de pequeno porte. Resultado: 53% dos moradores da Capital do Ceará não têm hoje acesso ao sistema de esgoto. No âmbito do Estado, esse índice cai pela metade.

Projetos de saneamento continuam fora da pauta política no Ceará. O tema só é tratado de forma rápida. É conhecido o desprezo que os políticos dedicam a obras de saneamento, que são “enterradas” e difíceis de serem apresentadas na campanha eleitoral. Os governantes preferem erguer, para citar Chico Buarque, “estranhas catedrais”.

O resultado é um conjunto de obras caras e de baixa serventia, incluindo-se um hospital fechado e um aquário inacabado. Enquanto o Ceará e o Brasil não enfrentarem a questão do saneamento, seremos sempre um País e um Estado com os pés fincados no atraso. Opovo.

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