Politicagem com a Previdência - O ESTADO DE SP
O protesto contra o projeto de reforma da Previdência em tramitação no Congresso, convocado por centrais sindicais e os ditos movimentos sociais e realizado quarta-feira passada em quase todas as capitais, não passou de mero pretexto para uma manifestação nitidamente política contra o governo. Tudo isso misturado com cenas de vandalismo que já se tornaram habituais nesses casos, principalmente no Rio de Janeiro e em Brasília, e com os transtornos causados a milhões de trabalhadores por causa da paralisação do transporte público.
Num dos principais atos do protesto, realizado na Avenida Paulista, o ex-presidente Lula da Silva promoveu mais um comício de sua campanha para voltar à Presidência da República em 2018, se condenações nos vários processos a que responde – dentro do maior escândalo de corrupção da História do País, orquestrado por seu partido, o PT – não atrapalharem seus planos. Repetiu a cantilena do “golpe” do presidente Michel Temer contra Dilma Rousseff, com a esperada e ensaiada resposta da claque aos gritos de “Fora Temer”.
E, é claro, não perdeu a ocasião para enaltecer o próprio governo, com a sua conhecida mania de grandeza. Em meio a críticas a Temer e ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, explicou em tom professoral qual o caminho a seguir para tirar a Previdência da grave crise em que se encontra, para qual também contribuiu: “Vocês querem resolver o problema da Previdência? Em vez de fazer uma reforma que tire direitos, façam a economia crescer, gerem emprego e aumentem os salários que a receita vai voltar”. Como fazer isso com o País no atoleiro em que seu governo e o de sua apadrinhada Dilma o jogaram não é problema dele, que estava ali como estrela no palco armado para sua demagogia rasteira de candidato a todo vapor.
A instrumentalização política do “protesto” continuou com a repetição do mantra “Fora Temer” pelo País afora, como principal argumento, se se pode empregar a palavra, contra o projeto de reforma da Previdência. Que não vai “acabar com as conquistas dos trabalhadores”, outra ladainha repetida para embalar o discurso de Lula, mas, ao contrário, foi proposta para preservá-las.
Ato essencialmente político – ainda que facinoroso – também foi a invasão do prédio do Ministério da Fazenda, em Brasília, porque se inscreve na tática de atacar por todos os meios o governo sem discutir seriamente, em nenhum momento, as questões técnicas levantadas pela reforma. É o recurso ao grito e à baderna. Vidros foram quebrados, paredes pichadas e várias salas e seus móveis depredados. Cenas de um espetáculo revoltante transmitidas pela televisão.
No Rio de Janeiro, houve confrontos entre os manifestantes e a Polícia Militar em vários pontos da cidade. Baderneiros puseram fogo em latas de lixo e depredaram agências bancárias. Um cenário que se tornou corriqueiro quando entram em cena os black blocs tolerados, quando não incentivados, pelos organizadores de muitas das manifestações recentes, que depois jogam sobre eles, espertamente, a responsabilidade pela violência.
Em São Paulo, além do grande comício eleitoral da Paulista, em frente ao Masp, pequenos grupos, bem organizados e articulados, interromperam o trânsito em várias ruas e avenidas para congestionar ainda mais o trânsito – já caótico por causa da paralisação parcial dos ônibus, metrô e trens – e dar a impressão de uma manifestação maior do que a que realmente ocorreu.
A Prefeitura estima que 2,5 milhões de pessoas, a grande maioria de trabalhadores, tiveram sua vida transtornada pela dificuldade de chegar ao trabalho e depois voltar para casa.
Se for comprovado que não respeitaram as decisões do Tribunal Regional do Trabalho sobre a manutenção do serviço nos horários de pico, os sindicatos dos motoristas de ônibus e de metroviários deverão ser pesadamente multados. É de esperar que isso aconteça, porque não se pode transtornar impunemente a vida da cidade para alimentar as ambições políticas de uns poucos.