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Leviandades e factoides

Depois de dirigir-se ao Congresso em surpreendente tom institucional e apropriado, o presidente americano Donald Trump não tardou a deixar claro que aquele discurso, em 28 de fevereiro, foi apenas uma trégua em seu habitual comportamento abusivo.

Em meio a notícias de novos contatos velados de seus assessores mais próximos com representantes do governo russo, o presidente dos EUA não hesitou em reincidir na fabricação de factoides.

Sem apresentar nenhuma evidência, acusou em uma rede social o ex-presidente Barack Obama de ter ordenado escutas telefônicas na Trump Tower, seu quartel-general durante a campanha eleitoral do ano passado.

Não se pode descartar, em tese, que alguém ligado à administração anterior possa ter se envolvido numa das repetitivas tramas de espionagem do meio político —e nem mesmo que o ex-mandatário, por fantasioso que pareça, possa ter coonestado alguma atividade do gênero.

O que choca no episódio é a leviandade da acusação. Atropelando protocolos básicos, o presidente dos Estados Unidos lançou contra seu antecessor suspeitas desprovidas de indícios mínimos que pudessem torná-las plausíveis.

Trump, segundo versões da imprensa, teria sabido do assunto em uma corrente de boatos que nasceu num programa de rádio e fluiu por sites conservadores —como o "Breitbart News", de seu assessor Stephen Bannon. A acusação, sem dúvida, parecia tentadora para um lance de diversionismo.

O tema rendeu extensa cobertura da imprensa e debates na TV, mas o show da nova administração acabou por colocá-lo em segundo plano, com a divulgação do esperado e polêmico projeto para substituir o Obamacare —sistema de ampliação de acesso à saúde criado pelo governo democrata e execrado pelos republicanos.

Nada sugere, porém, que a providencial troca do tema em pauta trará mudanças de conduta.

A linha de comunicação adotada por Trump baseia-se em declarações espalhafatosas dirigidas com frequência contra os veículos jornalísticos, na tentativa de desacreditá-los sob uma torrente de insultos e inverdades.

O comportamento destrutivo do atual mandatário dos Estados Unidos —que não se resume, como se sabe, à área de comunicação— é sintoma de uma crise mais profunda da representação política.

Pesquisas recentes mostram, entretanto, que Trump continua a contar com o apoio de parcela expressiva do eleitorado.

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