Feudo sindical - FOLHA DE SP
Designações muito abrangentes, como "ruralistas", carregam o defeito de homogeneizar realidades muito díspares até o ponto da irrelevância. Tome-se o caso do agronegócio: sob a rubrica abriga-se desde o mais globalizado exportador de grãos do Centro-Oeste até o menos produtivo pecuarista da Amazônia.
O panorama do campo no Estado de São Paulo se distingue pelo ultraeficiente cultivo e processamento da cana-de-açúcar. Isso não impede que a classe produtora paulista conviva com resquícios de patrimonialismo retrógrado, como observa-se há quatro décadas na Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Faesp).
Desde 1975 a entidade tem como presidente Fábio Meirelles, ex-deputado federal (1991-95) pelo antigo PDS. Ele foi reeleito em 2015, mais uma vez, pelos 237 sindicatos que representam cerca de 200 mil proprietários rurais do Estado.
Para começar, parece desmesurada essa quantidade de instituições classistas. Ao que tudo indica, uma multiplicação estimulada pelo fluxo garantido de contribuições obrigatórias.
Só a Faesp recebeu, em 2016, R$ 16 milhões. E o mesmo dirigente comanda o braço bandeirante do Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), ao qual coube a gestão de R$ 119 milhões do chamado sistema S em 2015.
Evidentemente, um comando tão amplo e por tanto tempo haveria de resultar em relações inapropriadas. Conforme noticiou esta Folha, filhos de Meirelles desenvolvem atividades profissionais ligadas, de maneira mais ou menos direta, às duas entidades.
Na raiz das distorções está o imposto sindical compulsório, instituído na década de 1940 pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) para patrões e funcionários.
No caso do setor rural, a legislação atual estabelece que, dos recursos arrecadados com o tributo, 60% sejam destinados aos sindicatos rurais, 20% ao Ministério do Trabalho, 5% à confederação nacional e 15% às federações estaduais como a Faesp.
A proliferação de sindicatos não acomete apenas o setor agrícola, é verdade. No entanto, se as suas alas mais modernas pretendem de fato melhorar a imagem da classe produtora com algo mais que propaganda, podem principiar por cuidar melhor da representatividade de seus líderes.