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Quem está mesmo atrás das grades?

Como se fosse pouca coisa o cotidiano barra pesada dos últimos tempos, o povo brasileiro tem perdido o resto de sono que ainda possui com a escalada da brutalidade no sistema prisional em todo o País. A mídia, as redes sociais, os entreouvidos no ônibus, a conversa de botequim não tratam de outro assunto. As imagens fortes, os detalhes sórdidos, os requintes de crueldade estão à vista de toda a gente. Cabeças decepadas, membros superiores e inferiores mutilados, corações arrancados enchem contêineres frigoríficos e mentes atormentadas.

Virou costume desligar a televisão na hora dos noticiários nacionais. Haja estômago para aguentar tanta notícia ruim. E havia quem jurasse que era só a mulher sair que tudo se ajeitaria. Um “descontrole momentâneo”, um “acidente pavoroso” isso tudo?

 

Qual nada. Ao mesmo tempo patronos e reféns de um arcabouço totalmente falido e superado e às voltas com uma imensa população carcerária, os governos federal e estaduais, feito baratas tontas, dão tratos à bola para encontrar um meio de resolver o ultra-indigesto pepino. No mais das vezes, só conseguem deixar ainda mais complicado o quadro, principalmente quando esquecem a justiça e os direitos humanos e dão asas a preconceitos e a bárbaros modos de agir. “Devia era ter uma chacina por semana”, “Bandido bom é bandido morto”, “Só 60?! Deviam ter matado era mil...” e outras pérolas da burritzia brazuca são ouvidas cada vez com mais frequência. Seus arautos desprezam a possibilidade de que o feitiço pode virar contra o feiticeiro. Não é o que tem demonstrado a marcha da realidade.

 

O mais interessante é o ponto de vista de alguns segmentos religiosos quanto à questão. Empanturrados de hóstia e água benta ou de pé doendo de tanto chutar a santa, alguns fervorosos seres dessas hostes, tão ciosos de sua devoção para com o Altíssimo, dão verdadeiros shows de hipocrisia e farisaísmo quando miram demasiado o céu e dão cotocos à Terra. Ou será que o “amai-vos uns aos outros” só voga da porta do templo para dentro? Que religiões e doutrinas são essas que só servem para auto-consumo e benefício? Numa quadra em que domina a tal da pós-verdade, o sentido do humano se esgarça em favor das reluzentes promessas dos bezerros de ouro. É bem verdade que nos sentimos cada vez mais inseguros e desprotegidos, mas a solução não é virarmos, cada um, um John Wayne...

 

Enquanto as facções se digladiam nos presídios em copiosos banhos de sangue, pensamentos me invadem: com a baixíssima credibilidade dos políticos, evidenciada na alta abstenção das últimas eleições, não se estaria criando um espaço de representação política a ser plenamente ocupado, sem intermediários, pelo crime organizado? Ou este já estaria há muito na surdina dando as cartas nessa seara e agora se prepara para assumir o leme? A ADEG informa: saem os amadores e entram os profissionais, é isso? O duro ultimato dado ao governo paulista, na semana passada, pela fina flor da bandidagem verde-e-amarela é de arrepiar o cabelo do relógio. “Até quando a maldade humana semeará ódio e violência neste planeta?”, pergunta, atônito, o Papa Francisco. Pois é, Santidade, até quando? ROMEU DUARTE / OPOVO

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