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Os reacionários no Brasil de Lula, Dilma e do PT

Diante da radicalização das posições políticas no país, acentuada desde a aceitação do pedido de impeachment da presidente Dilma pela Câmara dos Deputados, e da truculência das patrulhas ideológicas contra quem não conjuga o pensamento das esquerdas, decidi republicar aqui um post que escrevi sobre o tema (leia a íntegra abaixo). Publicado originalmente no site de ÉPOCA em março de 2013, o post parece mais pertinente do que nunca. Embora a chamada “direita” tenha se fortalecido de forma significativa no Brasil desde aquele período – alavancada pela bandalheira promovida pelo PT e por seus aliados e pelo fracasso do modelo de capitalismo de compadrio implantado por Lula e Dilma –, as patrulhas ideológicas estão com a corda toda. Para enfrentá-las, nada melhor do que recorrer à sabedoria do grande Nelson Rodrigues.

Leia a seguir o post original Os reacionários no Brasil de Lula e do PT.

“Hoje, o sujeito prefere que lhe xinguem a mãe e não o chamem de reacionário”, disse Nelson Rodrigues numa de suas crônicas, à qual deu o título de O ex-covarde. Publicada em sua coluna no jornal “O Globo”, em 18 de outubro de 1968, a crônica do grande Nelson, na qual ele falava sobre a superação do medo que sentia de expressar publicamente suas ideias libertárias e anti-esquerdistas, é uma daquelas obras primas que sobrevivem ao tempo e ao contexto em que foram produzidas. Não fosse pela menção a alguns personagens da época, como o escritor e pensador católico Alceu Amoroso Lima (1893-1983), o líder chinês Mao Tsé Tung, o “Grande Timoneiro”, e Che Guevara, o “herói” da “Revolução Cubana”, ela poderia ser republicada hoje sem que ninguém pudesse desconfiar de que foi escrita 45 anos atrás.

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No Brasil atual, como nos tempos de Nelson Rodrigues, é preciso ser de esquerda ou pelo menos parecer de esquerda, para não se tornar alvo do escárnio das “patrulhas ideológicas”. Não importa se você é da situação ou da oposição, se é rico ou pobre, doutor ou analfabeto. Pode ser empresário da Fiesp, a entidade que reúne os industriais paulistas, banqueiro de terno escuro, coronel do Nordeste, artista, intelectual, jornalista e até “rato de praia” da zona sul carioca. Ninguém quer ser chamado de “reacionário”, “de direita”, “conservador”, “liberal” ou “neoliberal” – as palavras de baixo calão que designam hoje no país o ser “abominável” capaz de acreditar que “a liberdade é mais importante do que o pão”, como dizia Nelson Rodrigues. “Por medo das esquerdas, grã finas e milionários fazem poses socialistas”, escreveu ele em sua crônica – um fenômeno que continua acontecer no Brasil, em pleno século XXI. Poucos, muito poucos, têm a coragem que ele teve de manter suas convicções e enfrentar o ímpeto difamatório da tropa de choque da gauche. Caberiam numa Kombi.

Embora o Muro de Berlim tenha caído em 1989 e a União Soviética se desintegrado em 1991, a impressão que se tem no Brasil hoje é de que ainda estamos em plena Guerra Fria. Experimente, por exemplo, defender abertamente o capitalismo numa mesa de bar na Vila Madalena, em São Paulo, ou no Baixo Leblon, no Rio. Ou, se preferir, diga que a Cuba de Fidel Castro é uma ditadura que não respeita os direitos humanos. Ou, então, tente defender abertamente os Estados Unidos, considerado o satã mundial pela esquerda tupiniquim. Os “patrulheiros” de plantão provavelmente vão ridicularizá-lo em praça pública, como fazia o regime de Mao, durante a Revolução Cultural, nos anos 1960.

A diferença dos tempos de Nelson Rodrigues é que, na época de Nelson, Lula e o PT ainda não existiam e eram os comunistas de tonalidades variadas que formavam as milícias ideológicas. Hoje, no Brasil, o patrulhamento parte, com frequencia, do próprio governo, que divide a sociedade entre “nós” – a situação -, os defensores dos pobres e oprimidos, e “eles” – a oposição -, os representantes das elites, “que não aceitam a ascensão de um líder popular como Lula”.

No Brasil dominado pelo PT e por seus simpatizantes, o maniqueísmo ideológico transformou-se em política de Estado. Quem ousa dizer que Lula deveria ser investigado por sua participação no mensalão e defende abertamente a condenação dos mensaleiros petistas pelo Supremo Tribunal Federal, por compra de votos no Congresso Nacional e desvio de dinheiro público, é tratado como inimigo público pela turma de Brasília, pelos dirigentes do PT e pela “guarda revolucionária”, que se multiplica pelas redes sociais.

Muitas vezes, como ocorreu com a blogueira cubana Yoani Sánchez, impedida pelos fundamentalistas de esquerda de realizar palestras e noites de autógrafos de seu livro no país, os patrulheiros reagem com truculência. Com frequencia, disparam campanhas difamatórias pela internet, por meio de ONGs obscuras financiadas com recursos públicos ou, nas palavras do ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, com “o seu o meu, o nosso” dinheirinho. Se alguém tiver alguma pretensão política e não rezar pela cartilha da esquerda, será carimbado como “inimigo do povo” e dificilmente conseguirá se livrar do rótulo incômodo, por mais que ele tenha pouco ou nada a ver com a realidade. De toda forma, o que é ser “inimigo do povo”? Não foi o capitalismo, afinal, o regime que permitiu o maior desenvolvimento da história às sociedades que o adotaram?

Diante desse patrulhamento obsoleto e inaceitável, ressuscitado com aval oficial, talvez seja o caso de todos os que se sentem incomodados por esse ímpeto difamatório deixarem o medo para trás e repetirem, para si mesmos, as sábias palavras de Nelson Rodrigues: “Sou um ex-covarde”. “Para mim, é de um ridículo abjeto ter medo das Esquerdas, ou do Poder Jovem, ou do Poder Velho, ou de Mao Tsé-Tung, ou de Guevara. (...) Para ter coragem, precisei sofrer muito. Mas a tenho”, disse ele, ao fechar sua crônica imortal. JOSÉ FUCS / ÉPOCA

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