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Seca 2.0 - FOLHA DE SP

O semiárido brasileiro enfrenta o quinto ano seguido de chuvas escassas. Em outubro, o mapa da estiagem no Nordeste quase não tinha áreas fora das categorias de secas grave, extrema ou excepcional. As perdas para a agricultura foram enormes, com quebras acentuadas na produção de mandioca e feijão. As grandes cidades, como Fortaleza, lutam para evitar o racionamento de água. A represa de Sobradinho, no rio São Francisco, está à beira do volume morto. A queda na produção de energia por usinas nordestinas deve provocar um repique nas tarifas de eletricidade.

 

Até a zona da mata, no litoral nordestino em geral beneficiado por alguma chuva, padece.

Felizmente não se presenciam mais as cenas dantescas de fome e mortandade que motivaram mestres da literatura regionalista, de José do Patrocínio a Graciliano Ramos. O Nordeste, assim como o Brasil, mudou muito desde a última grande seca destruidora, de 1979 a 1983, quando até 100 mil pessoas podem ter morrido na estiagem.

A fome se espalhava sobretudo nos períodos de El Niño, o aquecimento anormal de setores do oceano Pacífico que afasta as chuvas do já estorricado Nordeste.

O distúrbio climático se reeditou em 2014/15, potencializado talvez pelo aquecimento global. O padrão devastador, porém, não se repetiu.

Hoje o país conta com uma rede significativa de proteção social. Cerca de 7 milhões de lares recebem ajuda do programa Bolsa Família no Nordeste, 50,6% dos beneficiários no país. Além disso, nos governos petistas de Lula e Dilma Rousseff a economia da região cresceu mais que a média nacional.

O que não mudou muito, infelizmente, foi a fixação do Estado brasileiro com medidas convencionais para mitigar os efeitos da seca. Permanece a opção preferencial pelas obras faraônicas, como a transposição do São Francisco, e a distribuição de água por mais de 6.500 caminhões-pipa.

Ao custo de mais de R$ 8 bilhões, a transposição deveria ficar pronta em 2012, mas só o eixo leste está para ser inaugurado; do eixo norte ainda falta licitar as obras não executadas.

Seca é a realidade do Nordeste, e tende a agravar-se com a mudança climática prevista pelos cientistas. O Estado brasileiro tem de fazer mais para adaptar a população a essa realidade —por exemplo, com projetos mais eficientes do que transpor água de um rio que mal dá conta das demandas atuais.

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