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Gestão paraestatal volta a crescer no governo Lula

Por  Editorial / o globo

 

O Conselho de Administração das empresas de capital aberto é uma garantia para os acionistas. Fiscaliza as decisões dos gestores responsáveis pelo dia a dia das corporações e contribui com a visão estratégica dos conselheiros, com o objetivo de aumentar a lucratividade e perpetuar o negócio. No Brasil, contudo, tem sido frequente a distorção desses princípios nas empresas em que o Estado detém participação acionária e o direito de indicar integrantes do Conselho. Embora não sejam formalmente empresas estatais, nem controladas pelo governo, suas atividades acabam por adquirir uma natureza paraestatal, influenciada pela política. Isso quando a motivação da indicação não é exclusivamente pecuniária (conselheiros são muito bem remunerados), prejudicando ao mesmo tempo a estratégia corporativa, a geração de riqueza e, em consequência, a economia brasileira.

 

Há, de acordo com levantamento do GLOBO, 63 companhias privadas ou de economia mista espalhadas por 20 setores em que o governo pode indicar nomes aos Conselhos de Administração ou Fiscal. Sob o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, as escolhas têm obedecido à lógica de aumentar os ganhos de integrantes do primeiro e segundo escalões, alinhar a empresa às políticas do governo e distribuir favores. Nenhum desses critérios resulta na escolha de profissionais reconhecidos, com pensamento estratégico.

 

Em 2023, o coronel da Aeronáutica Geraldo Corrêa de Lyra Junior tornou-se conselheiro da companhia de energia Copel. No currículo, a informação mais saliente era ter sido piloto do avião presidencial nos governos de Lula e de Dilma Rousseff. Para a metalúrgica Tupi, o PT indicou os ministros Carlos Lupi (Previdência), Anielle Franco (Igualdade Racial) e Vinícius de Carvalho (Controladoria-Geral da União). Não é do conhecimento público a competência técnica dos três nesse segmento da economia. Nem o governo tenta esconder que a motivação é elevar os ganhos do primeiro escalão. A remuneração anual mais modesta no conselho da Tupi em 2023 foi de R$ 546 mil, segundo reportagem do GLOBO. Para os beneficiados, é um dinheiro que só depende da permanência no governo. Para a empresa, é uma oportunidade desperdiçada.

 

A motivação pecuniária nem é a pior. O governo também indica nomes para Conselhos com a intenção de influir na gestão das empresas. Não faz sentido acreditar que seus representantes são os mais indicados para pensar estrategicamente sobre o futuro de algumas das empresas mais relevantes do Brasil, como JBS, Vale, Bradesco, Itaú, Natura, Gerdau, Embraer, Vibra ou Renner. A cada quatro anos, os ventos que sopram de Brasília podem mudar de rumo — e as empresas e a economia arcam com as consequências.

 

Tudo poderia ser diferente — e já foi. No governo Michel Temer, o BNDES passou a indicar como conselheiros profissionais independentes, com reconhecido conhecimento na área de atuação da empresa, sem ligação com o governo. Não durou muito. Assim que o PT voltou ao poder, o banco voltou a indicar nomes alinhados com o partido. O mesmo comportamento se repete em fundos de pensão, suscetíveis aos desmandos do governo. Não é com o modelo de capitalismo paraestatal que o Brasil terá empresas de excelência internacional, capazes de contribuir da melhor forma para o crescimento da economia.

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