Governo tem dificuldade de comunicar ao povo até resultados positivos
Pedro Fernando Nery comenta / o estadão de sp
As falhas na comunicação do governo federal têm sido uma constante na administração atual. O novo ministro da Secretaria de Comunicação (Secom), Sidônio Palmeira, foi escalado para tentar melhorar a interlocução do Executivo com a população, mas parece que ainda não acertou a mão. No Chame o Nery desta semana, o colunista Pedro Fernando Nery analisa a dificuldade em transmitir para o povo até mesmo as coisas boas feitas pelo governo. “Outro dia estava andando aqui em Brasília e a Secom colocou uns banners gigantes nos prédios da Esplanada com propaganda de conquistas, de realizações que teriam sido feitas em vários temas.”
Segundo Nery, havia várias imprecisões e até mesmo o governo comemorando resultados mais tímidos do que os resultados alcançados. “Isso mostra uma certa fragilidade na comunicação da própria Secom, do próprio time liderado pelo ministro Sidônio, que é quem tá dizendo que a comunicação não é boa.” O colunista mostra que a primeira informação colocada nos banners era que o salário mínimo teve o maior crescimento dos últimos 6 anos. Na verdade, diz ele, o crescimento do salário mínimo é maior num período muito mais amplo: provavelmente em mais de 10 anos.
“O aumento real em 2025 é baseado no aumento do PIB de 2023; o salário mínimo é reajustado pela inflação do ano anterior e pelo PIB de 2 anos antes. O aumento real em 2025 é baseado no PIB de 2023, que ficou em 3,5%. Esse é o maior aumento do salário mínimo, talvez desde 2011.”
Ele explica que outra forma de avaliar como a comunicação é ruim é que o salário mínimo real no Brasil está no maior nível da história − estamos falando de uma série que começa em 1940. “Então em quase 100 anos a gente nunca teve um salário mínimo tão alto em termos reais.”
Assim como o salário mínimo, Nery afirma que os dados do índice de desemprego podem apresentar números bem melhores do que o anunciado pelo governo. Hoje, segundo os banners, o Brasil tem o menor desemprego em 12 anos. Mas isso porque o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mudou sua metodologia e, por isso, não se comparam os dados com anos anteriores.
Mas, segundo Nery, alguns economistas já fizeram o exercício de compatibilizar as estatísticas e verificaram que o índice de desemprego pode ser o menor em 30 anos. “Nos últimos trimestres de 2024, a taxa de desemprego reportada pelo IBGE ficou em 6,4% e 6,2%, respectivamente, para o penúltimo e último trimestre do ano passado. Isso não tem paralelo na série histórica e a gente só encontraria esse dado lá em meados dos anos 90.”
Para Nery, isso significa que o governo está perdendo a oportunidade de falar que tá com a menor taxa de desemprego em 30 anos e, na verdade, “prefere falar em menor taxa de desemprego em 12 anos por conta da série histórica”. “Há outras imprecisões, mas não são tão graves. A Secom tem um problema grave de falta de intimidade com os dados econômicos, inclusive os que são positivos para o governo.”