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‘Crucificação’, ‘sentença pronta’; defesas dos denunciados da gerência do golpe negam acusações

Por Rayssa Motta / o estadão de sp

 

Os advogados dos seis denunciados do núcleo dois - ou “núcleo de gerência” - do plano de golpe têm 15 minutos cada para tentar convencer a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) a rejeitar a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR). O julgamento está sendo realizado nesta terça, 22.

 

O contexto é desfavorável. No mês passado, os ministros desmontaram argumentos das defesas do “núcleo crucial” do golpe e receberam as acusações contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros sete acusados. A decisão foi unânime.

 

Boa parte dos argumentos e objeções rejeitados pela Primeira Turma do STF no primeiro julgamento é semelhante aos que foram apresentados pelos acusados do núcleo dois em suas defesas prévias - alegações escritas enviadas com antecedência aos ministros para tentar convencê-los a rejeitar a denúncia.

 

Na tribuna, os advogados procuram apontar especificidades em relação aos seus clientes em uma tentativa de diferenciar os núcleos da denúncia e, com isso, conseguir um desfecho diferente. A tendência, no entanto, é que a acusação seja recebida.

 

As defesas também buscaram exaltar os currículos e trajetórias profissionais dos denunciados.

 

A Primeira Turma do STF vai analisar se há elementos suficientes para receber a denúncia - o que se chama no jargão jurídico de “justa causa da ação penal” - e abrir um processo criminal. Nesta fase, via de regra, não há juízo de valor sobre as acusações. O julgamento do mérito do processo só ocorrerá após a chamada instrução da ação - etapa em que são ouvidas testemunhas e podem ser produzidas novas provas.

 

Veja os argumentos de todas as defesas:

Fernando de Sousa Oliveira

Delegado de Polícia Federal, Fernando de Sousa Oliveira foi diretor de Operações do Ministério da Justiça e Segurança Pública no governo Jair Bolsonaro. A PGR afirma que ele participou da operação para direcionar o trabalho da Polícia Rodoviária Federal (PRF) contra eleitores de Lula. Segundo a denúncia, houve uma “intensa coordenação de estratégias para interferência no pleito”.

 

No 8 de janeiro de 2023, Oliveira era secretário-executivo da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, o número dois da pasta, então chefiada por Anderson Torres. Ele também é acusado de ter se omitido deliberadamente para permitir das manifestações na Praça dos Três Poderes.

 

O advogado Danilo Davi Ribeiro afirma que Oliveira foi colocado no “olho do furacão” - ele assumiu o cargo quatro dias antes de os bolsonaristas radicais invadirem a Praça dos Três Poderes. A defesa também alega que ele tomou todas as medidas possíveis para “defender o Distrito Federal”. “Não houve omissão no dia 8 de Janeiro.”

 

Filipe Martins

A PGR imputa a Filipe Martins, ex-assessor de Assuntos Internacionais da Presidência, a confecção de uma das minutas de decreto que teriam circulado no núcleo duro do golpe. Em delação premiada, o tenente-coronel Mauro Cid disse que Bolsonaro recebeu do então assessor um rascunho de decreto, que previa a prisão de autoridades e a convocação de novas eleições.

 

Os advogados Marcelo Almeida Sant’anna e Sebastião Coelho de Silva, que representam Filipe Martins, negaram que ele tenha elaborado ou apresentado a Bolsonaro qualquer minuta de caráter golpista.

 

A defesa destacou que ele não é advogado e, por isso, não teria conhecimento para dar suporte jurídico a um suposto plano de golpe, como acusa a PGR.

 

“Aquele processo de crucificação que Jesus sofreu, Filipe Martins está sofrendo desde 8 de fevereiro de 2024, mas ele tem que acabar hoje”, defendeu Sebastião Coelho. “Não há justa causa para o recebimento desta denúncia.”

 

Marcelo Costa Câmara

O coronel Marcelo Costa Câmara, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, foi acusado de monitorar ministro Alexandre de Moraes em meio às articulações para o golpe após a derrota nas eleições de 2022. O objetivo, segundo a denúncia, era prender o ministro e anular o resultado da votação. Moraes ganhou até um codinome, era tratado como “professora”. Seus passos eram acompanhados de perto pelo entorno do ex-presidente.

 

O advogado Eduardo Kuntz, que representa Marcelo Câmara, afirmou que o coronel fez um “controle de agendas” do ministro e negou que o monitoramento tivesse motivação violenta.

 

O criminalista também questionou a competência do STF para processar e julgar o caso. Kuntz alega que os acusados não têm foro por prerrogativa de função e, por isso, o processo deveria tramitar na primeira instância.

 

O criminalista também questionou a competência do STF para processar e julgar o caso. Kuntz alega que os acusados não têm foro por prerrogativa de função e, por isso, o processo deveria tramitar na primeira instância.

 

Marília Ferreira de Alencar

Delegada de Polícia Federal, Marília Ferreira de Alencar foi diretora de Inteligência do Ministério da Justiça e Segurança Pública no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Partiu dela a ordem para que analistas produzissem um relatório com informações sobre os locais em que o presidente Lula teve mais votos no primeiro turno. Segundo a Procuradoria-Geral da República, o objetivo foi usar os dados para direcionar as operações da PRF contra eleitores petistas.

 

Mensagens obtidas na investigação reforçam a denúncia. “Temos que pensar na ofensiva quanto a essas pesquisas”, escreveu a delegada em um grupo de WhatsApp. Em outra conversa, ela afirma: “Belford Roxo o prefeito é vermelho, precisa reforçar pf”. Marília também escreve que “Pelotas foi 52x36 pro Lula. 202 mil habitantes. Cara os caras tem que rodar essas bases. POA também foda. 49x39 pro Lula.”

 

O advogado Eugênio José Guilherme de Aragão afirmou que o relatório foi elaborado para identificar regiões onde poderiam ocorrer “confrontos” entre eleitores.

No 8 de janeiro de 2023, a delegada era subsecretária de Inteligência do Distrito Federal. Ela também foi acusada de “omissões foram cruciais para a consumação” dos atos golpistas.

 

A defesa afirma que a delegada “tomou todas as providências que estavam ao seu alcance” para evitar os atos golpistas na Praça dos Três Poderes. O advogado também afirmou que “ter preferência política não é crime”.

 

Mário Fernandes

O general Mário Fernandes, então secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência, foi denunciado como autor do plano de execuções de autoridades públicas batizado de “Punhal Verde e Amarelo”. O esboço criminoso previa assassinatos e sequestros do então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do vice Geraldo Alckmin (PSB) e do ministro Alexandre de Moraes. O general está preso preventivamente desde novembro de 2024.

 

O advogado Marcus Vinicius de Camargo Figueiredo, que representa Mário Fernandes, iniciou a sustentação oral negando qualquer animosidade do general em relação ao STF: “Meu cliente não é inimigo da Corte. Excelentíssimo ministro relator, meu cliente não atentou contra a vida de Vossa Excelência.”

 

A defesa também reiterou que o processo deveria ser julgado na primeira instância. “O regimento interno do Supremo não tem força de lei para fixar competência constitucional.”

 

O criminalista admitiu que a denúncia será recebida, mas criticou o que avalia como punição antecipada. “É impossível que a sentença esteja pronta antes do devido processo legal.”

 

Silvinei Vasques

O ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal é acusado de usar a estrutura da corporação para beneficiar o ex-presidente Jair Bolsonaro nas eleições de 2022. Segundo a PGR, ele direcionou operações no segundo turno para favorecer Bolsonaro e para dificultar o voto de eleitores do Nordeste, reduto histórico do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A denúncia afirma que Silvinei Vasques usou os recursos da PRF para “inviabilizar ilicitamente que Jair Bolsonaro perdesse o poder”.

 

A Procuradoria-Geral da República chama atenção para as mudanças nos planos de trabalho do primeiro e do segundo turnos da eleição e afirma que as alterações de procedimentos foram ditadas pela “necessidade sentida pelos denunciados de orquestrar medidas de impedimento, mediante uso de força policial, de acesso às zonas eleitorais de eleitores considerados perigosos para um resultado favorável” a Bolsonaro.

 

O advogado Anderson Rodrigues de Almeida, que representa Silvinei Vasques, negou direcionamento de operações da PRF e afirmou que “nenhum eleitor deixou de votar” no segundo turno das eleições de 2022.

 

“Silvinei Vasques foi perseguido pela Polícia Federal diante do sabido histórico de brigas institucionais que existe entre Polícia Rodoviária Federal e Polícia Federal”, alega a defesa.

 

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