Busque abaixo o que você precisa!

Ameaças de Trump indicam mandato mais turbulento

Por Editorial / O GLOBO

 

Logo após o republicano Donald Trump vencer com folga as eleições presidenciais e ver seu partido conquistar maioria no Congresso, líderes de países em diferentes partes do mundo passaram a traçar novos cenários sobre o que aconteceria com sua volta à Casa Branca. Trump não os fez esperar tanto. A menos de duas semanas da posse, deu o tom do segundo mandato. Em entrevista nesta semana, declarou ser possível o uso da força para desafiar a soberania de países aliados. Trump quer o controle do Canal do Panamá e que a Dinamarca venda a Groenlândia. Na mesma ocasião, fez provocações e ameaças de pressão econômica para que o Canadá se torne um estado americano. Pode ser tudo parte de estratégia para obter concessões. Com exceção de Trump e seus assessores, ninguém sabe. Daí a impressão de que o segundo mandato será ainda mais imprevisível que o primeiro.

 

Nos últimos dias como secretário de Estado, Antony Blinken tem aconselhado seus pares “a não perder tempo” com a ameaça à Groenlândia. Jean-Noël Barrot, ministro de Relações Internacionais da França, também acha improvável um ataque à Dinamarca, membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Expressando o sentimento de muitos, Barrot disse que estamos entrando num período “da lei do mais forte”.

 

Embora o estilo ameaçador seja totalmente reprovável, é preciso reconhecer que em alguns pontos a grosseria de Trump encobre motivações sensatas. No primeiro mandato, a pressão para países europeus investirem mais em Defesa tinha razão de ser e obteve algum efeito. A causa da investida contra a Groenlândia é a preocupação com os interesses da China e da Rússia no Ártico. Com o degelo provocado pelo aquecimento global, novas rotas marítimas serão abertas.

 

Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, os americanos têm uma base na Groenlândia. Localizada a 1.500 quilômetros do Polo Norte, possui sistema de detecção de mísseis e comando de satélites. Após Trump manifestar novo desejo de adquirir o território, o governo dinamarquês declarou que não estava à venda, mas afirmou disposição de cooperar de forma mais próxima com os Estados Unidos. Se o plano de comprar a Groenlândia for mesmo apenas uma estratégia para obter concessões, ainda não está claro o que Trump quer. O estranho é alguém tão preocupado com a China e a Rússia tratar tão mal os aliados.

Para a América Latina, uma das promessas de campanha com maior potencial de impacto é a deportação em massa de imigrantes ilegais. As remessas de dinheiro de todo o mundo para a região em 2023 totalizaram US$ 155 bilhões, quantia superior ao total de investimentos estrangeiros, de acordo com o Banco Mundial. Na América Central, o dinheiro transferido, principalmente dos Estados Unidos, tem um peso desproporcional na economia. Na Nicarágua equivale a 26% do Produto Interno Bruto (PIB), e em Honduras a 25% (no Brasil é inferior a 1%).

 

Nem tudo corre o risco de desaparecer. Parte das remessas vem de trabalhadores já legalizados. Além disso, Trump terá dificuldades logísticas para cumprir a promessa de deportar 15 milhões de pessoas. Mas, mesmo que o número acabe sendo menor, algum impacto negativo será sentido. O segundo mandato de Trump ainda desperta muitas dúvidas e pelo menos uma certeza: não faltará truculência.

 

Compartilhar Conteúdo

444