Lula errou ao fazer política na festa da democracia
Por Merval Pereira / O GLOBO
O presidente Lula errou ao dar um tom político à solenidade em defesa da democracia. Usar o 8 de janeiro como referência em defesa da democracia, numa solenidade no palácio do Planalto, tudo bem, inclusive com o simbolismo de receber de volta as obras de arte que foram vandalizadas. Mas quando foi para a praça dos Três Poderes para o abraço simbólico à democracia, tendo como convocadores da cerimônia a CUT, o PT e outros órgãos ligados ao governo, Lula juntou uma data que tem que ser lembrada como defesa democracia com uma atividade política. O PT poderia fazer outra comemoração em outro lugar; Lula poderia comparecer como presidente de honra do partido, e não como presidente da República.
Houve um exagero e o presidente não deve seguir esta linha. Liguei este fato à conversa dele com Fernanda Torres, quando disse que iria fazer de 2025 o ano de defesa da democracia. Se ele partir para isso até a eleição de 2026, se colocando como o defensor da democracia, mais uma vez contra a ameaça do bolsonarismo, vai ser um problema complicado porque vai acirrar a polarização e se colocar como principal oponente de Bolsonaro – e é o que ele quer; o PT acha que Lula é o único que pode enfrentar a herança de Bolsonaro - mas acho que não vai dar certo. Em 2022, ele ganhou por causa disso, mas não vai ganhar em 2026.
Já se passaram quatro anos de governo dele e não pode ficar vivendo do passado, tem que jogar o país para frente. A defesa da democracia acaba ficando um fato político e não um fato que tem que ser deplorado, como 8 de janeiro, mas não se pode ficar lembrando dele a vida inteira. Nos EUA, a invasão do Capitólio foi muito pior e o governo não ficou se aproveitando do fato. A primeira investida do novo chefe de comunicação do governo foi equivocada. E ainda de improviso, Lula, em mais um arroubo machista, insinuou que o marido gosta mais da amante do que da mulher, quando disse ser “amante” da democracia.


