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Veto a celular nas escolas é tendência que se espalha pelo mundo inteiro

Por Editorial / O GLOBO

 

É sintomático que a Assembleia Legislativa de São Paulo tenha aprovado por unanimidade, na última terça-feira, o veto ao uso de celulares em escolas públicas e privadas do estado, tanto durante as aulas quanto nos intervalos. É uma tendência que se espalha pelo mundo e pelas redes de educação brasileiras, obtendo raro consenso não só nas comunidades escolares, mas também nas casas legislativas, onde a proposta tem sido acolhida por legendas de diferentes tendências.

 

No mundo, segundo a ONU, um em cada quatro países restringe o uso de celular nas escolas. No Brasil, ao menos 16 redes estaduais já o proíbem em maior ou menor grau. O aparelho é alvo de restrições em 14 capitais, entre elas São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Cedo ou tarde, o veto se estenderá a todo o país. No final de outubro, a Comissão de Educação da Câmara dos Deputados aprovou, também por unanimidade, projeto que proíbe o uso de aparelhos eletrônicos em escolas públicas e privadas. É improvável que ele enfrente resistências, pois tem simpatia tanto do governo quanto da oposição.

 

O veto encontra respaldo na sociedade. Entre brasileiros com mais de 16 anos, 62% se mostram favoráveis à proibição tanto nas salas de aula quanto no recreio, revelou pesquisa Datafolha divulgada em outubro. Entre pais de crianças até 12 anos, 43% dizem que os filhos já têm celular e 65% apoiam a proibição. No exame do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) em 2022, 45% dos brasileiros entrevistados admitiram distração ao usar aparelhos eletrônicos na escola, 15 pontos percentuais acima da média mundial.

 

A proibição pode não agradar aos alunos, mas se justifica pelo dano que o aparelho provoca no aprendizado. Um relatório da Unesco divulgado neste ano alertou sobre os prejuízos para a concentração de quem fica grudado na tela do celular durante a aula. Diversos estudos têm apontado perdas na comunicação e na socialização, problemas no sono e no desenvolvimento cognitivo.

 

As normas são bem-vindas, mas é preciso bom senso. É necessário contemplar a comunicação imediata entre pais e filhos, em especial em emergências ou no caso de crianças com deficiência. A lei paulista determina acertadamente que sejam criados canais acessíveis para que os pais possam entrar em contato com seus filhos. Também é preciso estabelecer como a proibição se dará na prática.

 

Não resta dúvida sobre os danos do celular à atenção e ao aprendizado. Mas isso é apenas um lado da questão. Não se podem ignorar também os benefícios pedagógicos da tecnologia. É importante discutir como usá-la adequadamente, sob supervisão dos professores. Há muito, os telefones móveis trouxeram para a palma da mão um mundo de possibilidades. Seria saudável que elas não se fechassem para os estudantes.

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