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'Bolsonarismo sem Bolsonaro' e 'efeito Marçal': candidatos do ex-presidente enfrentam barreira para herdar votos

Por  e — Rio de Janeiro / O GLOBO

 

Candidatos apoiados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nas principais capitais brasileiras enfrentam dificuldades para se consolidar no eleitorado mais simpático à principal figura da direita brasileira. Em algumas cidades, como São Paulo, Belo Horizonte e Fortaleza, o voto bolsonarista está indo para figuras “antissistema”, o que joga luz sobre a possível ascensão de um “bolsonarismo sem Bolsonaro”, observam especialistas.

 

Também há o caso do Rio de Janeiro, onde o prefeito Eduardo Paes (PSD), até o momento, consegue neutralizar o apoio de Bolsonaro a Alexandre Ramagem (PL). A despeito de ser aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o candidato à reeleição tem 44% das intenções de voto entre aqueles que escolheram Bolsonaro em 2022, contra 23% do correligionário do ex-presidente, segundo a última pesquisa Datafolha.

 

O grande fenômeno das eleições municipais até o momento, no entanto, está em São Paulo, com a “onda Marçal”. Candidato pelo nanico PRTB, o ex-coach e influenciador Pablo Marçal vem causando um turbilhão no universo bolsonarista, a ponto de a campanha do prefeito Ricardo Nunes (MDB), que tem o PL na vice da chapa, precisar recalcular a rota.

 

No Datafolha, Marçal ultrapassou Nunes nas intenções de voto: eles aparecem tecnicamente empatados com 21% e 19%, respectivamente, juntamente com Guilherme Boulos (PSOL), que está numericamente à frente, com 23%. O crescimento do influenciador se deu justamente no eleitorado de Bolsonaro, segmento em que vence o emedebista por 44% a 30%.

 

Reação do clã

A pesquisa foi a campo antes de a família do ex-presidente se rebelar com mais firmeza contra Marçal na última quinta-feira, quando trocaram farpas nas redes sociais. Há expectativa sobre o grau de impacto da movimentação na “onda Marçal” — se será suficiente para miná-la ou se a afinidade de valores entre os eleitores de Bolsonaro e o influenciador é irreversível. Aconselhado, Nunes tende a inserir Bolsonaro na campanha de forma mais aguda, o que ele resistia até a divulgação do Datafolha.

 

Outro impacto que ainda não foi medido é a decisão judicial que bloqueou as redes sociais de Marçal, campo fundamental para o ex-coach, uma vez que não terá tempo de rádio e TV.

 

— O fenômeno do Marçal tem dois elementos muito significativos: o primeiro é a ideia do bolsonarismo sem Bolsonaro. Os valores do bolsonarismo estão muito capilarizados na sociedade e prescindem da representatividade do próprio Bolsonaro — avalia a socióloga Esther Solano, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). — A segunda coisa é a pulsão: a necessidade de mudança, de ruptura, de novidade, de um candidato que pareça diferente e “forte para peitar o sistema”, alguém supostamente autêntico.

 

O diferencial que vemos agora, observa a socióloga, é que esse campo político não parece mais depender de Bolsonaro para votar em candidatos que assumam os valores caros à direita.

 

— Marçal cristaliza, entre esses candidatos disruptivos, que o bolsonarismo transformou-se em um campo de ação política que se capilarizou na sociedade. Outra coisa imprescindível para o Marçal é que estamos vendo uma forma de fazer campanha com uma estrutura digital poderosa, alguns passos à frente da estrutura digital que o Bolsonaro usou — diz Solano.

 

Outros recortes da pesquisa em São Paulo ilustram a força de Marçal em setores da sociedade mais favoráveis a Bolsonaro em eleições anteriores, como evangélicos e homens. Com 30% das intenções de voto, o ex-coach tem oito pontos a mais que o prefeito entre os fiéis. No eleitorado masculino, Marçal tem 28%, contra 18% de Nunes.

 

Desafio em Minas

O candidato oficial de Bolsonaro também passa sufoco contra uma espécie de “outsider” em Belo Horizonte. Na capital mineira, Bruno Engler (PL) tem 10% das intenções de voto, segundo o último Datafolha, quase 20 pontos a menos que Mauro Tramonte (Republicanos) — que é deputado estadual, mas tornou-se mais conhecido como apresentador de TV.

 

Entre os evangélicos, Engler pontua melhor, chega a 15%, mas vê Tramonte somar 37% das intenções de voto nesse grupo. Nos segmentos em que Bolsonaro tradicionalmente vai melhor, o candidato do PL enfrenta a concorrência não só de Tramonte, mas também do senador Carlos Viana (Podemos), outro apresentador de TV que veste o figurino “antissistema” na eleição de BH. Viana tem a mesma pontuação de Engler entre os evangélicos.

 

A exemplo de Nunes em São Paulo, o prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman (PSD), apresenta dificuldades neste início de campanha com a presença de candidatos que buscam aparentar distância da política tradicional. Fuad, que marca 10% das intenções de voto, aposta na divulgação de entregas da própria gestão para crescer. Seu governo é bem avaliado por 28%, enquanto 21% consideram a gestão ruim ou péssima — percentual que vai a 25% entre os evangélicos.

 

Rival de direita

Em Fortaleza (CE), outra capital em que a transferência de votos de Bolsonaro para um candidato do PL enfrenta obstáculos, quem lidera a corrida é o deputado federal Capitão Wagner (União) — que ficou conhecido após liderar um motim da Polícia Militar no estado em 2012.

 

Wagner, que tem evitado se colar a Bolsonaro nesta campanha, chega a 38% das intenções de voto entre evangélicos, segundo pesquisa Quaest divulgada na última quinta-feira. É quase o dobro do percentual de André Fernandes (PL), que marca 21% no segmento. Deputado federal, Fernandes é um dos bolsonaristas atuantes no Congresso e chegou a ser investigado pelos ataques do 8 de Janeiro.

 

Na cidade, o prefeito José Sarto (PDT) concorre à reeleição com um patamar de aprovação semelhante aos de Nunes e de Fuad Noman: 30% consideram positiva a gestão do pedetista, enquanto 29% avaliam como negativa. No quadro geral da pesquisa, Sarto aparece na segunda colocação, nove pontos atrás de Wagner.

 

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