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Juros em 10,5% estão altos, mas não exagerados para que BC cumpra meta da inflação, avalia economista

Por  / COLUNA Míriam Leitão

 

O Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne nesta terça e quarta-feira para decidir qual será a taxa de juros básica da economia brasileira . A maior parte do mercado aposta que a Selic será mantida em 10,5%. Mantida a taxa, o Brasil se consolida como o segundo colocado num ranking de países com o maior juro real do mundo, só perde para a Rússia, o que tem levado a ataques frequentes do governo à condução da política monetária pelo Banco Central do Brasil. Juros altos têm um efeito perverso sobre a economia, aumenta os custos da dívida pública e fragiliza a situação fiscal do país, além de desincentivar investimentos produtivos, é um fato.

 

O economista Rafael Santos, professor da FGV EPGE, pondera, no entanto, desde 1999, quando se estabeleceram as metas de inflação, não se pode dizer que o BC tenha exagerado na dose dos juros para cumprir a sua principal missão: manter a taxa no alvo.

 

- Nunca teve um episódio onde a inflação ficou muito abaixo do limite inferior da meta. Então, historicamente, quando o Banco Central erra na mão, o que temos é uma inflação mais alta do que era mirado pela meta. O nosso histórico mostra que o BC não tem colocado um juros mais alto que a economia necessita para chegar na meta. Olhando para a Selic hoje eu não vejo que ela esteja muito alta e possa levar a inflação para rodar abaixo do alvo. Pelo contrário, a expectativa está acima da meta e o câmbio está depreciando.

 

Não vejo espaço técnico criticar a taxa de juros hoje no Brasil dizer que ela é muito elevada - diz Santos, co-autor do Samba, modelo econômico de equilíbrio geral adotado pelo Comitê de olítica Monetária do Banco Central do Brasil, do qual foi funcionário entre 2002 e 2018.

 

Na avaliação de Santos a discussão politizada da taxa de juros gera muito ruído e deveria ser evitada:

 

- O que vai definir o gabarito final se a taxa estava certa ou não é a inflação ir para a meta ou não. Quando se politiza o Banco Central pode ser perigoso, pois perde o foco. Banco Central deve ser avaliado se ele entregou ou não entregou a meta. Historicamente, nos últimos 25 anos, a gente perdeu a meta três vezes pra cima. Então o Banco Central errou, porque deixou a inflação subir demais, vamos dizer assim, em 2002 quando teve a troca e o câmbio depreciou muito por um medo de uma ruptura macroeconômica que não teve.

 

Em 2015, com uma ruptura institucional causada pelo impeachment e com pós-Covid, quando o sucesso da vacinação levou a retomada da demanda em velocidade maior do que a oferta. O Banco Central é uma instituição que persegue a meta de inflação e o instrumento para ele atingir a meta é a Selic que é a taxa nominal de curto prazo - diz o o professor da FGV EPGE, que acaba de obter primeira colocação no ranking do Conceito Preliminar de Curso, do Ministério da Educação.

 

Santos lembra que a meta de inflação é definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Para 2024, a meta para o IPCA é de 3% , com a tolerância entre 1,5% e 4,5%.

 

- A inflação está rodando em 4,2%, portanto acima da meta e o horizonte de política monetária é para um dois anos à frente. Se a gente olha hoje a taxa Selic, em 10,5%, e a inflação rodando acima da meta, não me parece que o Banco Central está sendo duro demais. Os números não mostram isso. O que você tem que medir o Banco Central é pelo mandato dele que é entregar a meta. Então se chegar no ano que vem a inflação estiver rodando muito abaixo da meta aí você pode voltar no tempo e falar poxa o juros estava muito alto. Agora se no ano que vem entregar a meta um pouco acima da meta é que o Banco Central acertou.

 

Tem um custo para desinflacionar a economia, tem um custo fiscal - reforça. Na avaliação do economista, o principal driver do mercado hoje é a expectativa com relação à capacidade do Estado brasileiro equilibrar as finanças públicas.

 

- Esse é o fiel da balança. Pois não há uma situação crítica dos indicadores, mas a desconfiança do mercado de que o governo não será capaz de cortar gastos e cumprir o arcabouço fiscal.O Brasil tem fundamento macroeconômico de fragilidade fiscal. A dívida bruta do governo saiu de patamar de 50% do PIB no início de 2012 para 77% e numa tendência de crescimento.

 

Então os preços do mercado estão a toda hora refletindo essas expectativas e claro que se o governo fizer algo bem elaborado e sinalize com atitudes que a responsabilidade fiscal é importante, de forma concreta, o mercado vai entender e os preços vão melhorar. Isso sim pode dar uma melhor perspectiva para a Selic - explica.

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