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Oferta ‘arriscada’ e ‘atípica’ de banco à Caixa era de R$ 1 bilhão

Por Rafael Moraes MouraJohanns Eller e / o globo

 

O Banco Master tentou negociar com a Caixa Econômica Federal aquisições de letras financeiras que chegavam a R$ 1 bilhão. Além dos R$ 500 milhões barrados pela área técnica da Caixa Asset, braço de gestão de ativos do banco estatal, o Master ofereceu à tesouraria da Caixa outros R$ 500 milhões.

 

Segundo o CEO do Banco Master, Daniel Vorcaro, as duas operações foram colocadas em suspenso após o blog revelar que a área de renda fixa da Caixa Asset reprovou categoricamente a aquisição de R$ 500 milhões pelo braço de gestão de fundos de investimentos do banco.

 

Em um parecer sigiloso obtido pela equipe da coluna, a compra foi considerada “atípica” e “arriscada”, não só em razão do valor, considerado alto demais, como por causa do rating do banco na Caixa Asset – BB+ (médio risco).

 

A resistência da área técnica levou a cúpula da Caixa a destituir do cargo dois gerentes que se opuseram à operação, abrindo uma crise com repercussão no Senado Federal e no Tribunal de Contas da União (TCU). As negociações em torno das duas operações, de R$ 500 milhões cada, foram confirmadas por três fontes do banco e por Vorcaro, em entrevista à equipe da coluna.

 

“Esse era o nosso pleito. Até a notícia ter acontecido [na última sexta-feira, quando o parecer foi revelado pelo blog], as informações eram de prosseguimento, de novas reuniões, de novas dúvidas, das duas operações”, afirmou o executivo sobre as negociações com a Caixa e a Caixa Asset, frisando que o valor final da aquisição das letras financeiras ainda não foi acertado.

 

“Na mesma época, a gente foi na verdade não só pra Asset, pra tesouraria da Caixa, a gente tem um pipeline de 30, 40 investidores desde que a gente começou esse processo no início do ano.”

 

Com o negócio em compasso de espera, chamou a atenção de agentes do mercado o fato de o vice-presidente de negócios de atacado da Caixa, Tarso Duarte de Tassis, ter apresentado como credenciais para ocupar o posto, em janeiro deste ano, a experiência como assessor especial da presidência do Banco Master “na área financeira e jurídica”.

 

Tarso assumiu em meio à troca de comando do banco estatal – agora, a associação com o Master tem levantado a discussão sobre um eventual conflito de interesses em sua atuação, mas ele tem dito a interlocutores que não participou de nenhuma tratativa referente à negociação bilionária do Master.

 

O vice-presidente de negócios de atacado também é conselheiro de administração da Caixa Asset, que, ainda que não tenha ingerência direta sobre a compra das letras financeiras do Master, pode solicitar informações sobre o assunto, considerando a repercussão do caso.

 

Na época em que Tarso assumiu o cargo, o Banco Master não contestou o vínculo do executivo – e não o havia feito até a última sexta-feira, quando Vorcaro declarou à equipe da coluna que Tarso não foi assessor da presidência do Master.

 

No sábado, porém, Vorcaro enviou uma nota ao blog admitindo que Tarso trabalhou para ele como advogado, sem esclarecer em que tipo de processo. Questionada a respeito, a Caixa não explicou que tipo de verificação fez no currículo de Tassis e nem como foi o processo de seleção até o fechamento da reportagem.

 

Em nota, a instituição afirmou apenas que a experiência profissional de Tassis antes da Caixa “a outras instituições financeiras, bem como a pessoas físicas participantes do sistema financeiro, foram formalmente declaradas antes da seleção para o cargo, como exige a melhor governança e transparência”.

 

Investigação

A crise aberta com a demissão dos gerentes que se opuseram à “arriscada” e “atípica” operação levou o subprocurador-geral do Ministério Público junto ao TCU, Lucas Rocha Furtado, a entrar nesta segunda-feira (15) com uma representação no tribunal para que a Caixa Asset seja obrigada a esclarecer a compra de um lote de R$ 500 milhões em letras financeiras do Banco Master.

 

Furtado quer uma apuração das possíveis irregularidades na realização do investimento, considerando os riscos envolvidos na aquisição. “Vejo com grande preocupação os indícios de irregularidades aqui trazidos. Considerando que prejuízos à CEF reverteriam ao erário federal, tendo em vista sua natureza sabidamente pública, entendo que operações da Caixa Asset, subsidiária integral da Caixa, merecem atuação diligente por parte desta Corte de Contas”, sustenta o subprocurador.

 

“No caso ora em análise, entendo necessário que o TCU tenha acesso ao mencionado parecer da área técnica da CEF quanto à aquisição do investimento no Banco Master, para que sejam avaliados os critérios utilizados e os possíveis desdobramentos dessa possível aquisição.”

 

No Congresso, o senador Eduardo Girão (Novo-CE) protocolou na última sexta-feira (12) um requerimento para que a Comissão de Transparência, Governança, Fiscalização e Controle e Defesa do Consumidor do Senado cobre esclarecimentos da Caixa Econômica e da Caixa Asset sobre a destituição dos gerentes envolvidos no parecer que desaconselhou a operação.

 

O senador do Novo solicitou ainda que o presidente da Caixa Econômica, Carlos Vieira, e o CEO da Caixa Asset, Pablo Sarmento, sejam convidados para uma audiência pública.

O que diz a Caixa

Procurada pelo blog, a Caixa informou que “não há nenhuma operação de aquisição de Letras Financeiras com o Banco Master em análise na instituição”.

 

Segundo o banco, a Caixa e a Caixa Asset possuem estruturas de governança independentes, com “segregação de acesso às informações”. “Com relação ao caso em questão, a Caixa informa que as operações de crédito e aquisições de títulos são precedidas por ritos de análises técnicas e deliberações em governança colegiada, que não incluem a deliberação do Conselho de Administração da Caixa Asset.”

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