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O governo saiu menor e com perspectivas piores da série de entrevistas de Lula

Por José Roberto Mendonça de Barros / O ESTADÃO DE SP

 

A perspectiva econômica piorou muito com uma bateria de críticas feitas ao Banco Central e a seu presidente por Lula, em sucessivas entrevistas, cuja consequência foi a elevação da cotação do dólar até R$ 5,68.

 

Depois disso, aparentemente convencido do mau passo que estava sendo dado, as críticas foram suspensas e, finalmente, a área econômica foi liberada para apresentar um programa de corte de gastos no próximo Orçamento, da ordem de R$ 25 bilhões, bem como propor um contingenciamento de despesas consistentes com o atendimento da meta deste ano.

 

Esse anúncio será o próximo momento crítico do cenário. Se os números forem considerados ruins, é possível que um certo estresse volte. Se forem razoáveis, segue o jogo, cujo epicentro estará no comportamento do câmbio.

 

Se a taxa de câmbio voltar para menos de R$ 5,30 nas próximas semanas, a contaminação da inflação projetada para 2025 será menor e desaparecerão as projeções de elevações adicionais da Selic. Naturalmente, no caso oposto, a situação será muito mais desafiante.

 

Mas vale observar, mais uma vez, que em qualquer das duas variantes o cenário para este e o próximo ano é mais degradado do que se via no início de 2024.

 

Pesam a favor de uma melhora no curto prazo alguns fatores. O excelente resultado da inflação americana publicado na semana passada reabre a possibilidade de um início da baixa de juros nos EUA em setembro. Isso claramente aliviaria muito o cenário internacional de curto prazo e deve, pelo menos temporariamente, reduzir as pressões sobre o câmbio. Como reforço nesse movimento, a balança comercial segue numa trajetória muito favorável.

 

Além disso, a evolução dos dados recentes mostra que o efeito do clima sobre a produção agrícola, até mesmo com o desastre ocorrido no Sul, não afetará o desempenho da inflação neste ano (corrigida pela variação na gasolina) e a trajetória projetada do PIB. Por fim, a face mais difícil da reforma tributária foi aprovada e tudo indica que sua essência foi mantida. Com essa sucessão de eventos, é razoável esperar que tenhamos algum alívio econômico nas próximas semanas.

 

Entretanto, como o site Jota afirmou muito corretamente, “o governo vai tentar navegar entre a convicção e o pragmatismo”. A convicção será expressa, por exemplo, pela nova gestão da Petrobras e seus velhos projetos; o pragmatismo se verá, por outro lado, numa recalibragem da política fiscal.

 

Não será uma estrada fácil, para dizer o menos.

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Opinião por José Roberto Mendonça de Barros

Economista e sócio da MB Associados

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