Abrir mão de candidaturas é o preço que o PT teve que pagar, diz Humberto Costa sobre as eleições de 2024
Por Caio Sartori— Rio de Janeiro / O GLOBO
Coordenador do Grupo de Trabalho Eleitoral (GTE) do PT, o senador Humberto Costa (PE) garante que o número de prefeituras conquistadas pelo partido em outubro será maior que o de 2020. Há quatro anos, a sigla saiu das urnas sem vencer em nenhuma capital, algo inédito até então, e ganhou em menos de 200 municípios brasileiros.
Para este ano, a despeito de o cálculo do partido vislumbrar um aumento considerável de triunfos, o PT abriu mão de candidaturas em capitais como São Paulo. Ao GLOBO, o senador afirma que as decisões não foram fáceis, mas são um preço a ser pago na tática de priorizar o jogo nacional.
O PT não terá candidatos próprios em várias das principais capitais: São Paulo, Rio, Salvador, Recife… Foi necessário ceder pensando no jogo nacional?
Não vou dizer que foram coisas fáceis de serem absorvidas, mas obviamente que, quando fazemos discussões políticas no PT, colocamos em primeiro plano a questão do governo federal. Não foi fácil, ninguém falou “que beleza, estamos muito felizes”, mas são preços que temos que pagar.
O partido perdeu muitas cidades nas últimas eleições e ficou sem nenhuma capital. Quantas prefeituras pretende fazer este ano?
Não estamos definindo metas. Até porque, se definirmos 350 e fizermos 349, vão dizer que o PT não atingiu a meta. Não estamos trabalhando assim, mas estamos dizendo com toda a convicção que vamos eleger um número maior de prefeitos que em 2020, quando elegemos 183. Com a eleição de governadores em 2022, vários prefeitos vieram para o partido, e hoje temos 265. Desses, 88% são prefeitos em primeiro mandato, candidatos à reeleição. Então, o que estamos dizendo é que vamos ampliar.
Teme repetir 2020 e ficar sem capitais ou vê chances reais em alguma?
Estamos disputando com candidatura própria em 14, mas pode ser que esse número diminua um pouco. Estamos tendo conversas dentro da própria federação, e há candidatos que vão avaliar a própria viabilidade. Dessas 14, achamos que temos gigantesca chance em Fortaleza e Teresina, boa possibilidade em Goiânia e Vitória, e o cenário começou a mudar favoravelmente em Porto Alegre. Pior do que foi em 2020 não vai ser. Boto muita fé em Teresina e Fortaleza, e nas outras vamos entrar para disputar.
Em 2022, Lula sofreu em alguns locais pela falta de cabos eleitorais relevantes. Como vislumbra isso para 2026, tendo como base as municipais?
Vai chegar melhor. Vamos ampliar nossa quantidade de prefeitos, a centro-esquerda como um todo também. Os partidos de centro com os quais temos relação também vão crescer em locais onde têm alinhamento com o governo federal. Outro dado importante é que vamos fazer um esforço maior para eleger vereadores. Vários estudos foram apresentados ao partido para mostrar que o voto para vereador influencia mais para a eleição de deputados federais do que a própria eleição de prefeitos. Vamos ter uma situação melhor, em termos de partido e campo político, para 2026. E precisamos mudar o perfil do Congresso Nacional.
E a projeção para vereadores?
Vamos ter um aumento significativo. Em 2020, elegemos 2663 vereadores, agora temos 3166. Vamos ampliar esse número na eleição, o que dará capilaridade ao partido para influenciar na eleição de deputado. Em 2026, vamos ser mais duros com vereadores na cobrança para que votem (para deputado) em candidatos do partido, porque muitas vezes eles pedem votos para candidatos ligados ao prefeito.
Este mandato de Lula, então, tem sido um recado claro ao PT de que é preciso priorizar a eleição de deputados?
Sim. Estamos lançando candidatos em cidades importantes que talvez não vençam a eleição, mas vão se tornar conhecidos, levar a uma renovação partidária que é necessária no PT. Podem não vencer as eleições para prefeito, mas viram fortes candidatos a deputado federal. É uma maneira de fortalecer a disputa para a Câmara em 2026.
Como o partido planeja a distribuição do fundo eleitoral?
Quanto cada município vai receber vai depender do estabelecimento de prioridades nos estados. Vamos tentar fazer um acompanhamento de viabilidade eleitoral dos candidatos. O TSE prevê repasse em mais de uma parcela, então vamos poder avaliar onde há viabilidade, onde não há, e vamos poder aplicar os recursos com mais efetividade.
O PSOL quer que o PT coloque R$ 40 milhões na campanha do deputado Guilherme Boulos em São Paulo. Isso será feito?
O PT decidiu, na Executiva Nacional, que não vai fazer repasse de recursos para outros partidos como uma política. O único caso que estamos admitindo é São Paulo. Mas não discutimos propostas de valor, nada disso. Esse dinheiro seria encaminhado via Marta Suplicy, vice da chapa. Não temos o valor exato, mas já há uma posição de que o PT vai aportar recursos para Boulos em São Paulo. Afinal, o resultado da eleição em São Paulo vai ser o grande parâmetro para se julgar o resultado nacional. O valor exato nós vamos começar a discutir em uma reunião da Executiva na próxima terça-feira.
Em que cidades o PT entende que o presidente Lula precisa entrar de cabeça na campanha?
Achamos que, apesar de a eleição estar muito próxima, o governo vai estar bem de popularidade. Essa história de eleição ganha de véspera não existe, não sei se alguém vai querer abrir mão de ter o apoio do presidente Lula. Vamos sentar com ele para ver em quais lugares achamos vital a participação. Há lugares em que talvez não valha a pena por ter de lados opostos partidos da base do governo. Essa situação vai ser avaliada caso a caso. Mas São Paulo, por exemplo, o presidente vai estar com certeza na campanha. Porto Alegre, mesma coisa.