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Cunha escalará o cadafalso juntinho com Dilma

Durante nove meses, Eduardo Cunha reivindicou dos seus pares a imunidade que a política concedia no passado aos que roubavam mas faziam. Para Cunha, seu protagonismo no processo de impeachment de Dilma Rousseff justificava seus pecados. O fato de ter atuado para livrar o Planalto de um desastre ético-gerencial o credenciava como herói da sua própria ficção.

Nesta quinta-feira, a Comissão de Constituição e Justiça concluiu que já é hora de a Câmara parar de fazer o papel de boba pelo bem de Cunha. Num dia em que os deputados costumam voar para os seus Estados, 60 dos 66 membros do colegiado deram as caras. Observada pelo próprio Cunha, que estava acomodado na mesa defronte do plenário, a maioria rejeitou o derradeiro recurso do deputado. O resultado foi acachapante: 48 votos a 12. Finalmente, o pedido de cassação do mandato de Cunha seguirá para o plenário.

Pelo tempo de uma gestação, a Câmara viveu uma situação surreal: um cadáver político transitava pelos corredores e gabinetes da Casa. E a maioria fingia não enxergar. Convencionou-se que o defunto não estava ali. A decisão do STF de privar o morto do exercício do mandato e, em consequência, da presidência da Câmara transformou os colegas de Cunha numa legião de bobos convenientes. Alguns distraídos defendiam os direitos políticos do cadáver enquanto seguravam a alça do calchão.

Há dois meses, em resposta a estocadas que recebera de Dilma, Cunha ironizou a presidente afastada. Anotou no Twitter: “Tchau, querida”. Caprichoso, o destino manobrou para que o zumbi da Câmara e a alma pena do Alvorada chegassem ao cadafalso juntinhos, no agourento mês de agosto.

Para desassossego de Cunha, o Brasil é outro. A impaciência nacional com a corrupção já não admite o convício com a cleptocracia, regime político em que poucos assaltam os recursos da maioria. Empresários corruptores e políticos que se habituaram a entesourar dinheiro sujo na Suíça estão aprendendo uma lição singela: não há obra ou feito capaz de redimir aqueles que forem flagrados plantando bananeira dentro dos cofres públicos. JOSIAS DE SOUZA

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