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Aos “amigos”, tudo: entra a Comissão de Mortos e Desaparecidos, sai da pauta a previdência militar

Por Eliane Cantanhêde / O ESTADÃO DE SP

 

 

A diferença é que a Comissão da Verdade “deixou muito ressentimento nas Forças Armadas, que a consideraram parcial, revisionismo, revanche, só investigando e pronta para punir um lado”, disse o general. Já a que está de volta tem um “foco até humanitário”, que é buscar os restos mortais dos 144 ainda hoje desaparecidos e, onde é cabível, ressarcir as famílias. “Pais, mães, filhos, filhas, irmãos têm o direito de saber o que de fato ocorreu com seus entes queridos e onde estão seus restos mortais”, acrescentou, lembrando que o Exército já colaborou com buscas, inclusive no Araguaia, mas temendo frustração: “Passou muito tempo, é muito difícil achar”.

 

Ele não disse, mas parece claro que a negociação se arrastou quase um ano e meio porque setores do governo, liderados pelo chefe da Casa Civil, Rui Costa, e o ministro dos Direitos Humanos, Sílvio Almeida, queriam a Comissão da Verdade, e as Forças Armadas, à frente o ministro da Defesa, José Múcio, a dos Mortos e Desaparecidos. Convencido de que “é preciso cuidar bem dos amigos, de quem está ajudando depois de tantos problemas”, o presidente Lula desempatou pró FA.

 

E a previdência dos militares, alvo da primeira lista de cinco itens que circulou na área econômica para o corte de gastos? Múcio é curto e direto: “Isto está fora da pauta”. Ele e os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica souberam da ideia pela imprensa – e não gostaram. Múcio pegou o carro oficial, percorreu os três minutos entre o ministério e o Planalto e fez uma longa argumentação para Lula, que, depois, disse publicamente que não iria tocar essa história adiante.

 

Segundo o general Tomás, “o que as Forças Armadas têm não é previdência, é sistema de proteção social” e o “patrão”, que é o governo, banca duas partes da contribuição dos civis, mas nenhuma dos militares. Refletindo a resistência da caserna a mudanças, disse que “o sistema (dos militares) é justo e mexer nele pode inviabilizar a carreira militar”, porque, no início da carreira, os soldos são muito baixos, há muitas mudanças de estado, casa, escola e é difícil fazer poupança e, no fim, só 4% dos oficiais chegam a general, todo o resto vai para reserva, no máximo, como coronel.

 

Se o argumento é válido ou não, é uma questão para a área técnica discutir e a área política decidir. O fato é que o torniquete da Polícia Federal e da Justiça está se fechando em torno do ex-presidente Jair Bolsonaro, generais, almirantes e coronéis, enquanto a extrema direita cresce no mundo e o ambiente econômico é instável. Logo, não é hora de abrir mais frentes de atrito.

 

Além, claro, de uma comparação ardida: o Congresso abocanha bilhões de reais em emendas, o Judiciário esbanja em super salários e viagens extravagantes e o corte vai ser na previdência dos militares? Até que poderia, ou deveria, mas não parece prudente.

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Opinião por Eliane Cantanhêde

Comentarista da Rádio Eldorado, Rádio Jornal (PE) e do telejornal GloboNews em Pauta

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