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Moradores perdem comida, móveis e documentos após chuvas na Grande Fortaleza; ‘água na cintura’

Theyse Viana e Lucas Falconery / DIARIONORDESTE

 

Os efeitos da chuva de mais de 75 milímetros que banhou Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza, entre domingo (12) e segunda (13), geraram perdas sem precedentes para famílias de áreas de risco da cidade.

Durante a madrugada, quando um braço do Rio Maranguapinho transbordou, a água invadiu as casas e levou alimentos, móveis, documentos, eletrodomésticos e vários pertences das famílias.

Morador da região desde 2010, o metalúrgico João Paulo Sampaio, 34, perdeu tudo. “Acordei com a minha casa debaixo d’água. Perdi tudo, tudo o que você possa imaginar. O guarda-roupa que paguei a última prestação agora, máquina de lavar, geladeira… Isso é triste”, desabafou.

João Paulo relata que, há cerca de 2 anos, elevou o nível da própria casa em mais de 1 metro, “pra ficar livre da água”. “Já tinha entrado água uns 5 anos atrás, quando minha casa era baixa. Aterrei, mas aconteceu de novo. E tem gente pior do que eu”, lamenta.

Desempregado, José Ricardo Bezerra, 60, precisou utilizar baldes para retirar o volume de água que entrou em casa, por volta de 1h da manhã. “A geladeira eu não sei se ainda vai prestar. Eu tava acordado e começou a correnteza grande demais a entrar por baixo da porta”, conta.

Na Vila Santa Edwirges, ao lado do rio, cerca de 10 famílias foram afetadas pelos alagamentos. Ao longo da manhã de hoje (13), os moradores descartavam roupas e outros pertences perdidos.

‘DEUS HÁ DE PARAR A CHUVA’

Para a costureira Geise Sousa, 37, e o filho de 9 anos, a noite de sono encerrou às 2h20 da manhã. “Acordei e minha casa já tava lotada. Geladeira boiou, fogão, guarda-roupa, colchão, não salvei nada. Moro aqui há 13 anos, a gente vive essa situação, mas agora tá bem pior”, frisa.

Quando a chuva iniciou, Geise chegou a colocar a geladeira sobre tijolos, mas não foi suficiente. A situação atípica, com um volume de água maior do que o costumeiro entrando em casa, a costureira relata que o filho “chorou muito”, assustado.

“Ele chorava e perguntava: ‘mãe, será que vai acontecer com a gente a mesma coisa que no Rio Grande do Sul?’. Eu disse que não, que Deus há de parar a chuva e alguém vai aparecer pra tirar a gente daqui.”

A preocupação com a chuva na região, que consta entre as 31 áreas de risco de Caucaia mapeadas pela Defesa Civil da cidade, é histórica. Também costureira, Maria de Lourdes Gomes, 34, assistiu à entrada da água em casa, por volta de meia-noite.

“Quando começa a chover, eu não consigo dormir. Quando olhei, a água já tava na minha calçada. Me desesperei, comecei a subir as coisas, pensei que ia dar só rasinho, como das outras vezes. Meu marido trabalha fora, liguei desesperada e quando ele chegou a água já tava dando na cintura”, diz.

‘PERDI MEU GANHA-PÃO’

Mais de 30kg de arroz, feijão, macarrão e outros alimentos se somaram aos prejuízos que a comerciante Francisca Lidianeide, 30, amargou após a água inundar o mercadinho que ela mantém. 

“Meu freezer ficou boiando. Perdi tudo. É do comércio que tiro meu ganha-pão, minha mistura, pago um papel de energia… É tudo daí”, diz, emocionada, em entrevista ao Diário do Nordeste.

A moradora, que vive há cerca de 3 anos na região, reafirma o que outras pessoas ouvidas pela reportagem relatam: o nível da água não tem precedente recente. “Desse jeito nunca tinha acontecido. Assim não. Foi um sufoco, muita água”, relembra.

Marcio Pedrosa, coordenador da Defesa Civil de Caucaia, confirma que as primeiras solicitações ocorreram na madrugada. As primeiras equipes chegaram às comunidades afetadas por volta das 11h da manhã.

“Tivemos problemas tanto no Rio Maranguapinho como no Riacho Maranguapinho. Essa área abrange três áreas de risco do município: São Miguel, Parque das Nações e Comunidade da Cagece”, informou o gestor.

Marcio explica que, além dos mais de 75 mm registrados em Caucaia, as chuvas de Fortaleza, Maranguape e Maracanaú também contribuem para subir o nível dos corpos d’água. 

Questionado sobre como o nível do rio é monitorado, o gestor afirmou apenas que o órgão “acompanha tanto com limpeza como através dos pluviômetros o nível do rio, nessas áreas já mapeadas”.

SITUAÇÃO EM FORTALEZA

Em Fortaleza, com as chuvas intensas da madrugada, alguns bairros também registraram pontos de alagamento e transtornos causados pela água. Na Cidade dos Funcionários, o problema é histórico, como relata o aposentado Augusto Brandão, 68.

“Esse problema acontece há 30 anos: sempre que chove forte, a água invade umas 20 casas, inclusive a minha. Teve vizinho que deu problema na geladeira, outro no celular, outro entrou água no carro. A água sobe uns 50 centímetros”, descreve Augusto.

A situação, segundo ele, ocorre principalmente nos cruzamentos entre as ruas Chico Lemos e Jales Cavalcante, e Rua João Barbosa Lima com Travessa Frei Gaspar. Neste ano, em fevereiro, quando Fortaleza registrou a maior chuva em 20 anos, o cenário foi igual.

Em outro ponto da cidade, na Rua Adarias de Lima, no Moura Brasil, uma nova cratera surgiu na via devido às fortes chuvas. Algo similar já havia sido registrado em outro momento de precipitações intensas, durante o Carnaval deste ano.

"Por volta de 2h30, escutamos um barulho e de uma hora para outra foi abrindo. Tivemos um susto muito grande", resume o morador Erisvaldo Bezerra. "É algo recorrente, já aconteceu lá em cima e agora foi aqui. Estamos esperando que resolvam logo esse problema", reforça.

Antonio Nei de Sousa, secretário da Infraestrutura do Ceará, informou à Rádio Verdinha FM 92.5 que a situação da cratera será resolvida ainda durante esta segunda (13).

"A Seinfra e o Consórcio estão agindo, traremos um caminhão para colocar o concreto. Esse é um buraco pequeno em consideração ao anterior e resolveremos isso durante o dia de hoje", explicou. O gestor também contextualizou que paredes de proteção serão construídas para evitar que novas crateras sejam formadas.

Os moradores do Conjunto Ceará, nas proximidades do canal da 4ª Etapa do Bairro, também precisaram sair de casa durante a madrugada para ajudar a escoar a água
"Tinha gente com água no joelho, alguns parentes meus acordaram com a casa cheia de lama", descreve a fotógrafa Ana Pinho, de 28 anos.

De modo geral, os mais afetados foram os que vivem mais perto do canal, como explica Ana, mas a família não perdeu bens por causa da chuva. "A água foi escoando e foi ficando mais tranquila, mas alguns familiares passaram por situação mais delicada. Felizmente não perderam nada, mas tinha casas com bastante água", pondera.
 

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