A arte de furtar - BARROS ALVES
Texto dos mais poderosos em ironia e requinte estilístico, publicado sob anonimato, é este A ARTE DE FURTAR, cuja leitura vem a calhar nesses tempos aziagos em que infames ladrões dos dinheiros pertencentes ao povo são tidos por veneráveis cidadãos de republicana conduta, especialmente quando o domínio lulocomunopetista da nação danou-se a expropriar empresas e cofres públicos no mais perfeito estilo stalinista de governo, mesmo sob o manto da democracia.
Aliás, é vezo dos liberticidas, numa paradoxal atitude criminosa, usarem as liberdades do Estado de Direito democrático, para apunhalar a democracia de forma traiçoeira e covarde.
Alguns bons críticos atribuem a autoria de A ARTE DE FURTAR à pena do mais brilhante orador sacro da língua portuguesa, o Padre Antônio Vieira, autor dos maravilhosos SERMÕES. Depois de inúmeras controvérsias, em que identificam-se como autores outros nomes de literatos portugueses, tais como João Pinto Ribeiro, Tomé Pinheiro da Veiga, Diogo de Almeida, Duarte Ribeiro de Macedo, Antônio de Sousa Macedo, Antônio da Silva e Sousa, Padre Manuel da Costa e D. Francisco Manuel de Melo, eis que a maioria dos críticos que se debruçaram sobre o texto em apreço, concorda que coragem e estilo, de fato, apontam para o Padre Vieira como autor.
Em hora de descaminhos tais quais as em que vive o Brasil dos larápios lulocomunopetistas, o autor verbera a corrupção, a doentia atitude dos corruptos, a metástase da semvergonhice institucionalizada por tantos que se fazem de fidalgos, quando não passam de reles ladrões das riquezas hauridas do trabalho da maioria sem poder. Naquele tempo como agora, fala-se dos “grossos cabedais tirados do Brasil” e verbera-se o comodismo das massas sob um discurso apologético da paz. Mas, o autor não concorda com essa malemolência macunaímica que, por agora, leva o povo brasileiro a calar diante da roubalheira que lhe tira o emprego e o pão de cada dia, exatamente por quem se arrima em discurso de defesa dos pobres. “Deus nos livre de tal paz. Paz fingida é pior do que guerra verdadeira; e esta é melhor, porque a boa guerra faz a boa paz.”
A leitura de A ARTE DE FURTAR traz-me à lembrança os Zés Dirceus, os Delúbios, os Genoínos, os Vaccaris, os Lulas e Lulinhas, gatunos de colarinho empolado ainda a se auto-intularem heróis do povo brasileiro, para escudados na boa fé da massa ignara, continuarem a rapinagem mesmo depois de condenados. “A raposa, quando salteia um galinheiro, faminta, ceva-se bem nos dois primeiros pares de galinhas que mata. E como se vê farta, degola as demais e vai-lhes lambendo o sangue por acepipe. Isto mesmo sucede aos que furtam com unhas fartas que não param nos roubos, por se verem cheios, antes; então, fazem maior carniçaria no sangue alheio. São como as sanguessugas que chupam até que rebentam…” Se Vieira vivesse no Brasil atual teria escrito melhor obra prima sobre a arte de furtar, porque matéria prima em que arrimar-se teria de sobra.
Barros Alves
Jornalista / O eSTADO DO CE