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PEC anti-Supremo é golaço de Bolsonaro feito na trave de Lula

Josias de SouzaColunista do UOL

 

Antes de o governo Lula completar aniversário de um ano, Bolsonaro fez no Senado um golaço que tentou emplacar, sem sucesso, durante os quatro anos de sua Presidência. Numa troca de passes com o centrão, a oposição bolsonarista enfiou nas redes do adversário a aprovação de uma proposta de emenda constitucional que interfere no funcionamento do Supremo Tribunal Federal, limitando decisões individuais dos seus ministros…

 

A articulação política funciona mais ou menos como o futebol. Ninguém marca um gol como esse sozinho. Há toda uma estrutura por trás. O bolsonarismo em campo; Davi Alcolumbre fazendo jogo duplo na grande área da Comissão de Constituição; Rodrigo Pacheco lançando nas costas do governo na linha de fundo; o centrão pedindo preferência na distribuição de bolas..

 

Todo mundo preparando a jogada para que o gol acontecesse. De repente, numa evidência de que Lula já não consegue controlar nem a sua pequena área, Jaques Wagner, líder do governo no Senado, dribla a si mesmo para participar da tabelinha que permitiu a Bolsonaro soltar um grito de gol que estava entalado havia quatro anos. O gesto de Wagner foi autorizado pelo amigo-presidente, às voltas com a necessidade de construir pontes com a oposição. Na arquibancada, o capitão assiste ao gol que seu time marcou na trave de Lula. E xinga o supremo juiz a plenos pulmões…

 

O conteúdo da emenda constitucional anti-Supremo é anódino. Eliminados os excessos e os retrocessos, a sobra mais relevante foi o bloqueio a liminares individuais contra decisões do presidente da República e leis do Congresso. Se prevalecesse o texto, um ministro não poderia proibir sozinho Dilma de nomear Lula para a Casa Civil, como fez Gilmar Mendes. Ou impedir Bolsonaro de acomodar o amigo Ramagem na pasta da Justiça, como fez Alexandre de Moraes…

 

Seja como for, a PEC não deve prosperar. Para virar realidade, precisaria ser aprovada também na Câmara. A reação das togas, verbalizada por Luis Roberto Barroso e Gilmar Mendes, presidente e decano da Suprema Corte, deve estimular o chefe da Câmara, Arthur Lira, um cliente de caderneta das liminares protetivas do Supremo, a enfiar a proposta no gavetão de assuntos pendentes. Que pode ser aberto conforme a conveniência…

 

Se o jogo de Bolsonaro serviu para alguma coisa foi para mostrar que o bolsonarismo permanece vivo e buliçoso no pós-Bolsonaro. Ainda não consegue fechar o Supremo. Mas é capaz de produzir um salseiro no campo do adversário…

 

Opinião
Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL… NEM A MINHA

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