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A opacidade do ‘novo’ IBGE

O ESTADÃO DE SP

 

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é o mais importante provedor de dados do País. Produz uma infinidade de pesquisas com informações censitárias, ambientais, econômicas, geocientíficas e sociais que traçam com precisão o retrato do Brasil. Segue, para isso, um Código de Boas Práticas, baseado em critérios certificados internacionalmente, que classifica as estatísticas como um bem público que tem na credibilidade a premissa fundamental para o exercício da cidadania.

 

A divulgação dos dados estatísticos produzidos pelo IBGE segue um ritual há muito conhecido pela imprensa, com entrevistas coletivas nas quais os técnicos detalham cálculos, estratificam resultados, cruzam informações, elaboram comparações e tentam dirimir todas as dúvidas que surgem. Apenas se recusam a fazer exercícios de futurologia ou avaliar de forma pessoal os resultados. A regra básica é limitar a apresentação ao que mostram os números, de forma estritamente técnica.

 

Apesar de todo o rigor, o atual presidente do IBGE, Marcio Pochmann, está descontente. Em cerimônia interna no dia 24 de outubro, para empossar Daniel Castro como coordenador-geral do Centro de Documentação e Disseminação de Informações (CDDI), informou que o estatuto do IBGE vai mudar para incorporar a coordenação de Comunicação Social, antes autônoma, ao CDDI. Como primeira consequência, pretende eliminar as entrevistas coletivas. Trata-se de evidente intenção de evitar o contraditório.

 

Para que não restassem dúvidas, apesar de seu discurso pouco assertivo e marcado pela tergiversação e pela linguagem trôpega, em determinado momento Pochmann afirmou que “a comunicação do passado” era aquela em que o IBGE divulgava os dados “através dos meios de comunicação tradicionais”. Segundo ele, “isso ficou para trás”, pois “hoje cada um de nós tem a capacidade de comunicação”, provavelmente referindo-se às redes sociais. Daniel Castro, por sua vez, disse na cerimônia que o grande desafio do IBGE “é chegar na dona Maria diretamente”. Ao que parece, a intenção é difundir informações diretamente ao público nessas redes, sem o filtro crítico e técnico dos jornalistas.

 

Não será surpresa se, nessa comunicação direta, sem o contraditório, o IBGE se preste a transformar estatísticas em material de campanha eleitoral em favor do PT e do presidente Lula da Silva. Foi exatamente o que fez Pochmann em 2009 quando, no comando do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), produziu comunicados supostamente técnicos para alimentar os discursos de campanha da petista Dilma Rousseff à Presidência da República. Um desses comunicados, a título de defender a contratação de mais servidores, asseverava que a produtividade do setor público cresceu mais do que a do setor privado no governo Lula; noutro, criticava a privatização dos bancos estaduais.

 

Ainda que nada disso aconteça, é perturbador quando o chefe do IBGE manifesta admiração pelo instituto de estatística da China, como fez em seu pronunciamento. Ora, se há algo que a China pode ensinar, é que ditaduras são muito zelosas quando se trata de manipulação de estatísticas. Em agosto passado, por exemplo, o governo chinês suspendeu a divulgação de dados de desemprego juvenil depois que o número bateu recordes por meses consecutivos. Esse “modelo chinês” foi reproduzido na Argentina dos “companheiros” Néstor e Cristina Kirchner, cujos governos manipularam escandalosamente os índices da inflação galopante e da pobreza crescente. O resultado foi uma brutal perda de credibilidade das informações oficiais.

 

Ninguém pode se dizer surpreendido. Pochmann é antes de tudo um quadro do PT, indicado por Lula da Silva ao IBGE não por suas qualidades como economista, que são desconhecidas, e sim em razão de sua fidelidade canina ao lulopetismo. Quem o colocou lá sabe bem o que fez.

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