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Produção de lítio cresce na América Latina e Brasil pode virar 4º maior produtor do mundo em um ano

Por Gabriel Bueno da Costa / O ESTADÃO DE SP

 

O incentivo cada vez maior à produção de carros que não dependam de combustíveis fósseis traz uma grande oportunidade para a América Latina. Com quase 60% das reservas globais de lítio, segundo a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), a região pode despontar como área estratégica para a fabricação de baterias dos carros elétricos.

 

Há, no entanto, uma questão a ser resolvida nesse setor, que são os riscos ambientais trazidos pelo método de extração, o que tem fomentado um debate sobre como mitigá-los, segundo analistas consultados pelo Estadão/Broadcast.

 

A Argentina, a Bolívia e o Chile formam o chamado “Triângulo do lítio”, com cerca de 60% das reservas globais reconhecidas do metal. Presidente e fundador da Cámara Latinoamericana del Litio, Pablo Rutigliano diz que os países com os maiores recursos poderiam potencializar toda uma cadeia produtiva em torno do metal na região, além de integrar México, Peru e Brasil, nações também com reservas de lítio.

 

Gestor de Renda Variável da Ace Capital, Tiago Cunha destaca que, no Triângulo, o lítio é de salmoura, extraído de salares em regiões desérticas. No Brasil, o quadro é distinto, pois o lítio vem de formações rochosas, como no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais. Até hoje, o mercado tem domínio do lítio de salmoura, do Chile e, mais recentemente, da Argentina. Mas Cunha ressalta o quadro no Brasil.

Na avaliação dele, tem sido pouco destacado no País “o tamanho da oportunidade”. Ele nota que, em menos de um ano, o Brasil deve virar o quarto maior produtor global de lítio. Hoje, o País é o quinto maior produtor, com 2,2 mil toneladas, segundo o Ministério de Minas e Energia (MME).

Essa participação deve ser elevada com os projetos em andamento no País. O ministério calcula que a produção de lítio e seus derivados pode receber investimentos de cerca de R$ 15 bilhões até 2030 apenas no Vale do Jequitinhonha. A região concentra 85% do lítio já identificado no País e vem sendo chamada de “vale de lítio” — área que envolve 14 municípios.

Segundo o ministério, estimativas do Banco Mundial, mostram que a demanda global pelo minério deve aumentar quase 1.000% até 2050. “Por ser um metal leve, tem um alto potencial eletroquímico e uma boa relação entre peso e capacidade energética. Por isso, seu uso para as baterias de carros híbridos e elétricos é diferencial”, diz o órgão, em nota.

O maior projeto no Brasil é o da Sigma Lithium, empresa criada no Brasil, registrada no Canadá, inscrita na bolsa americana Nasdaq e que entrou recentemente na B3. O grupo iniciou operações comerciais em abril nas cidades de Araçuaí e Itinga, no Vale do Jequitinhonha, com investimentos de R$ 3 bilhões.

Outras duas empresas que já atuam na mineração de lítio em Minas Gerais, a Companhia Brasileira de Lítio (CBL) e a AMG Brasil, têm programas de ampliação para também disputar o mercado de baterias automotivas.

Além disso, mais três grandes mineradoras internacionais estão se instalando no Vale do Jequitinhonha – a americana Atlas, a australiana Latin Resources e a canadense Lithium Ionic, todas com projetos de produção sustentável, na linha do que vem fazendo a Sigma. Outra australiana, a Si6 Metals, adquiriu em julho 50% da Foxfire, empresa brasileira que comercializa áreas de mineração e detém ativos na região e em outros Estados. As gigantes Rio Tinto e Vale também avaliam projetos na região.

Riscos

 

Há ganhos potenciais, com benefício financeiro a regiões de extração. Ao mesmo tempo, existe um temor ambiental importante. Diego Cacciapuoti, economista da Oxford Economics, destaca o risco de “consequências desastrosas para a segurança da água”. Como Cunha, Cacciapuoti menciona uma ameaça em especial para o Chile, com produção localizada em uma região com alto estresse hídrico, no Atacama.

Alec Lucas, analista de pesquisa da Global X ETFs, lembra que há uma corrida entre mineradores de lítio para desenvolver novas técnicas a fim de reduzir a pegada ambiental, com tecnologias de extração direta de lítio sem a necessidade de evaporação da água.

Eleição argentina

Na Argentina — que realiza em 19 de novembro o segundo turno presidencial, com disputa entre o governista Sergio Massa, atual ministro da Economia, e o libertário Javier Milei —, o setor de lítio é apontado como estratégico, por ser fonte de dólares e por seu potencial para crescer mais, ajudando a combalida economia local.

Analistas não esperam que o resultado eleitoral signifique uma reversão nesse processo, mas destacam que cada um dos candidatos pode representar ênfases distintas para o setor em geral.

Professor de Relações Internacionais na ESPM, Leonardo Trevisan afirma que o lítio é um dos elementos que marcam bem as diferenças entre os dois projetos políticos e econômicos. Ele diz que há 27 projetos de exploração do metal em andamento no país, e acredita que essa produção “sem dúvida” deve continuar a avançar, pois os dólares gerados pelas exportações são considerados cruciais para os dois nomes na disputa presidencial.

Para Milei, provavelmente o metal deve ser usado para honrar compromissos com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e credores internacionais, em um processo de “acomodação sistêmica”. O projeto peronista de Massa “é bem distinto”, por imaginar esses dólares e o próprio lítio como capazes de transformar o país num produtor de tecnologia.

Segundo Trevor Yates, da Global X ETFs, uma vitória de Milei poderia levar ao relaxamento de exigências para se fazer negócios e acelerar o desenvolvimento de projetos e trazer mais investimentos. Ao mesmo tempo, Massa não seria ruim para o setor de lítio, pondera. / Colaborou Cleide Silva

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