Josias de Souza/Colunista do UOL…

Lula avisara aos auxiliares que falaria mais abertamente o que pensa sobre o conflito no Oriente Médio depois que os brasileiros fossem retirados da Faixa de Gaza. Soltou a língua antes mesmo que o avião da FAB pousasse em Brasília, trazendo os 32 repatriados que deixaram o epicentro da zona de guerra…

"A quantidade de mulheres e crianças que já morreram, de crianças desaparecidas, a gente não tem conhecimento em outra guerra", disse Lula, durante solenidade no Planalto. "Depois do ato de terrorismo do Hamas, a solução do Estado de Israel é tão grave quanto foi o ato do Hamas, porque eles estão matando inocentes sem nenhum critério."

Lula já havia classificado o ataque do Hamas de "terrorista". Também já havia qualificado a contraofensiva de Israel de "insana". Mas foi a primeira vez que equiparou a ofensiva militar israelense à carnificina do inimigo. Foi como se Lula dissesse, com outras palavras, que Israel pratica "terrorismo de Estado."…

Enquanto celebra a repatriação de 1.477 pessoas, Lula cogita incluir a guerra na agenda de sua nova incursão internacional. No início do próximo mês, participará em Dubai da COP-28. Em 1º de dezembro, assumirá a presidência rotativa do G20. Injetará o conflito nos seus discursos…

É a segunda tentativa de Lula de transformar uma guerra em parte do seu plano de fazer da política externa um ponto alto do seu terceiro mandato. Na primeira, foi desligado da tomada pela comunidade internacional ao igualar a Ucrânia, país invadido, à invasora Rússia…

Agora, Lula parece apostar que o apoio generalizado ao direito de defesa de Israel não inclui a destruição e a ocupação da Faixa de Gaza. E deveria incluir um cessar-fogo —ou pausas humanitárias—, a soberania palestina sobre Gaza e a ressurreição da tese dos dois Estados…

Opinião
Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL…nem a minha