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PRESIDENTE Lula tenta evitar erros de Dilma na política, mas não pode ignorar economia como fez ex-presidente

Por Lorenna Rodrigues / O ESTADÃO DE SP

 

No livro Operação Impeachment, lançado em maio deste ano, o cientista político Fernando Limongi revisita os fatos que antecederam a queda da ex-presidente Dilma Rousseff. Chama a atenção como foi construído o relacionamento do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha com os governos petistas.

 

“Onde havia oportunidade, lá estava Cunha pronto a gerar dificuldades para negociar a solução”, diz um trecho. Em outro, ele afirma que “o governo começou a operar em Câmara lenta” e que nomeações para segundo e terceiro escalões “dormiam na mesa” da Casa Civil. “O padrão (de Cunha) se repetiu diversas vezes. Ameaças, seguidas de armistícios”, continua.

 

Lembra algo? A pressão por cargos, a demora do Executivo em atender os pedidos do Legislativo, as soluções da governabilidade na mão do Congresso remetem ao momento em que vivem os atuais presidentes da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).

 

Ou viviam até agora. Lula tomou as rédeas da política. Recuperado da cirurgia do quadril, percebeu que nada anda na Câmara se não for por Lira, que cobra uma fatura alta – como a presidência da Caixa Econômica Federal.

Testemunhou a insatisfação crescer no Senado, que derrubou sua indicação para a Defensoria Pública da União (DPU) – a segunda vez que a Casa rejeita na história um nome apontado por um presidente da República, como mostrou o repórter Gabriel Hirabahasi, do Broadcast Político.

 

Viu paradas as apostas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para aumentar a arrecadação e, diante do orçamento cada vez mais apertado para 2024, ano de eleições para prefeitos, vaticinou: dificilmente vai cumprir a meta fiscal de déficit zero, cujo único defensor, no governo, era mesmo o titular da pasta.

 

Para não repetir os erros políticos de Dilma Rousseff, Lula voltou a tomar para si a responsabilidade pela condução do governo. Não quer esticar a corda da relação com o Congresso, que arrebentou no caso de sua pupila e sucessora.

 

Mas não foi só na política que Dilma acumulou erros. A presidente também pesou a mão na economia, quando tentou baixar à força juros e tarifas do setor elétrico, por exemplo.

 

Obviamente que a situação hoje é muito diferente. Mas, ao dizer para os líderes que não quer contingenciar nada do orçamento, Lula não conseguirá, com responsabilidade, igualar a retórica com a matemática, ainda que a meta não seja zero. Por mais que agrade a base com um discurso que, na prática, deixará livre de cortes emendas parlamentares, não adianta apenas dizer que o mercado é ganancioso.

 

A reação a uma meta frouxa virá nos próximos “Copons”. Depois, sem ajuda do fiscal, não adianta tentar baixar juros “no gogó” – ou pressionando o Banco Central, como fez Dilma, em uma época em que a autoridade monetária ainda não era autônoma. Limando seu ministro da Fazenda em praça pública e ignorando os conselhos da área econômica, Lula pode acabar contratando um problema para o futuro.

 

 
 

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