Fazenda torpedeada por Casa Civil é, no mínimo, mau presságio…
Josias de Souza/ Colunista do UOL
Já se sabia que Fernando Haddad toureava a divergência de Rui Costa, chefe da Casa Civil, e se esquivava do fogo amigo do PT. Mas nem o adversário mais ranheta do governo poderia supor que, a dois meses do Natal, Lula iria transformar o compromisso do seu ministro da Fazenda de zerar o déficit em 2024 numa fantasia equiparável a Papai Noel. Assim como o bom velhinho, a meta fiscal de Haddad, que já andava desacreditada, passou a frequentar o universo do faz-de-conta…
Nesta segunda-feira, três dias depois de Lula ter declarado que o déficit não precisa ser zero e que não cogita cortar gastos para manter as contas nacionais em ordem, Haddad falou aos jornalistas com a língua na corda bamba. Recorreu a estratagemas linguísticos para atingir o subterfúgio de reafirmar seu compromisso fiscal sem responder se a meta de déficit zero, inscrita na proposta de Lei de Diretrizes Orçamentárias enviada ao Congresso, será ou não modificada…
Haddad irritou-se com a reiteração das perguntas sobre o déficit. A certa altura, se autoconverteu em tradutor de Lula. Disse que o presidente não expressou descompromisso com a meta. Apenas constatou que a arrecadação do governo escapa por ralos tributários. Lorota. Lula não mencionou ralos na fala de sexta-feira. Eles existem. Haddad guerreia para fechá-los. O trabalho já seria difícil se Lula desse mão forte a Haddad…
Na prática, ao colocar em dúvida a disposição do governo de cumprir sua própria meta fiscal, Lula tomou um lado na disputa travada nos subterrâneos do governo em torno do tamanho do déficit. No polo oposto ao de Haddad, está Rui Costa. Coordenador do PAC, o programa de obras de Lula, ele defende a revisão da meta. Na melhor das hipóteses, um ministro da Fazenda que precisa manter um olho na coleta da Receita Federal e outro nas maquinações da Casa Civil é um mau agouro. Na pior das hipóteses, é a abertura de uma trilha eu conduz ao desastre.
Opinião
Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
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