Ao desprezar déficit zero, Lula sabota o seu próprio governo
Josias de Souza / UOL,
Lula recebeu jornalistas para um café nesta sexta-feira. Durante a conversa, referiu-se com menosprezo ao objetivo traçado pelo seu ministro da Fazenda de zerar o déficit fiscal em 2024. "Nós dificilmente chegaremos à meta zero, até porque eu não quero fazer cortes em investimentos e obras", disse o presidente. "A gente não precisa disso." A questão não é que Lula sabota Fernando Haddad. O problema é que o presidente da República soa como uma espécie de quinta-coluna do seu próprio governo…
O mercado olha para Brasília com desconfiança. Um pedaço do PT se opõe aos planos de Haddad. O Congresso cria despesas e renova isenções tributárias que não ornam com a necessidade de elevação das receitas. Faz corpo mole em relação às propostas que vitaminam os cofres. Injeta no projeto de reforma tributária exceções que desfiguram os objetivos…
O êxito do novíssimo marco fiscal depende de um brutal aumento de arrecadação de tributos. A proposta de Orçamento federal para 2024 estimou essa coleta adicional em cerca de R$ 170 bilhões. O relógio joga contra. O ano termina em dois meses…
Num esforço para dar credibilidade ao esqueleto fiscal que substituiu o destelhado teto de gastos, a equipe econômica se autoimpôs missões severas: déficit de 0,5% do PIB neste ano de 2023, zero em 2024 e superávit de 0,5% em 2025. Lula e as torcidas do Flamengo e do Corinthians sabem que objetivos fiscais tão estritos dificilmente serão alcançados…
No íntimo, nem Haddad acredita que acertará o olho da mosca. Num país apinhado de desigualdades, seria insano submeter investimentos sociais e projetos de desenvolvimento a um torniquete indiscriminado. Mas conviria ao presidente da República manter viva ao menos a crença de que o governo trabalha para atingir um ponto qualquer próximo do alvo.
Lula não é um presidente debutante. No alvorecer do seu terceiro mandato, já deveria ter aprendido que, ao jogar a toalha tão prematuramente, dá asas aos conspiradores.
Opinião
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