Lula 3 incorpora à Esplanada dos Ministérios escândalos que já vêm prontos.
Josias de Souza / UOL
"Não preciso ficar prestando contas porque as pessoas me conhecem", repetia Lula durante a campanha presidencial. "O que eu tenho é o legado de oito anos de Presidência da República." Na área econômica, ainda não foi possível distinguir que Lula assumiu o Planalto —se o da austeridade ortodoxa do primeiro mandato ou o da heterodoxia expansionista do segundo. Na composição política, porém, é notável a diferença de Lula 3. As extravagâncias pululam nos primeiros dois meses. No momento, está pendurado de ponta-cabeça nas manchetes o ministro Juscelino Filho, das Comunicações.
Sob Bolsonaro, o deputado Juscelino usou R$ 5 milhões do orçamento secreto para asfaltar uma estrada que passa em frente à sua fazenda, no Maranhão. Na campanha à reeleição para a Câmara, no ano passado, omitiu da Justiça Eleitoral um patrimônio avaliado em R$ 2,2 milhões em cavalos de raça. No ministério, cavou uma agenda hipoteticamente "urgente" em São Paulo como pretexto para voar nas asas da Força Aérea Brasileira para um leilão de cavalos.
Médico e empresário, Juscelino revela-se dotado de múltiplas aptidões. Nenhuma delas orna com as atribuições de um chefe da pasta das Comunicações. Ganhou o ministério como representante do União Brasil. A legenda obteve outras duas pastas. No Turismo, emplacou Daniela do Waguinho, notabilizada pelos vínculos com milicianos do Rio. Na Integração Regional, Waldez Góes, condenado no STJ por desvios de verbas públicas. Aos poucos, o desarranjo ético do terceiro mandato de Lula vai ganhando nome.
Muitos o chamam de Juscelino, Daniela ou Waldez. Outros o batizam de Davi Alcolumbre, patrono das três nomeações. Alguns preferem chamar de Elmar Nascimento, o líder do União Brasil que se escorou no prestígio de Arthur Lira para manter sob seus domínios a Codevasf, autarquia pela qual verbas secretas do orçamento saíram pelo ladrão na gestão Bolsonaro.
Se os nomes da perversão fossem esses, a solução seria simples. Bastariam alguns golpes de caneta. Mas o verdadeiro nome do problema é Lula. Nos mandatos anteriores, suava o paletó para produzir seus próprios escândalos —mensalões e petrolões. Agora, incorpora à sua terceira gestão escândalos que já chegam prontos à Esplanada dos Ministérios.