Lula virou o líder da oposição ao governo Lula.
Josias de Souza UOL
Está ficando monótono. Os auxiliares econômicos do governo remam numa direção. O presidente impulsiona a embarcação em sentido contrário. Ainda não surgiu alguém capaz de explicar a lógica que se esconde atrás do comportamento de Lula. Mas seja qual for, a estratégia não está funcionando. Ao tomar posse no comando do BNDES, Aloizio Meecadante falou de uma gestão "do futuro". Lula enalteceu o passado de subsídios e calotes.
Na mesma cerimônia, Lula voltou a torpedear a independência do Banco Central. Disse ser vergonhosa a taxa de juros de 13,75% ao ano. O ministro Fernando Haddad (Fazenda) tenta colocar em pé ajustes e reformas que levem à queda dos juros. Com sua corneta, Lula produz ruído que eleva a expectativa de inflação, pressionando o BC a manter os juros na Lua.
Até as vírgulas do discurso lido por Aloizio Mercadante pareciam sinalizar uma preocupação do orador em virar a página. Foi uma fala de mostruário. "Não estamos aqui para debater o BNDES do passado, mas o do futuro, que será verde, inclusivo, tecnológico, digital e modernizante", disse Mercadante a certa altura.
O discurso de Lula também virou a página, só que para trás. Ele elogiou o BNDES do passado, com subsídios para empresas amigas e calotes de ditaduras companheiras..
É como se os auxiliares econômicos do governo estivessem sempre um passo atrás da língua do presidente. Sempre que dizem ou fazem uma coisa, Lula declara o contrário. É difícil prever até quando vai perdurar a desconexão. Por enquanto, a única certeza disponível é que Lula tornou-se o principal líder da oposição ao governo Lula..