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Ao deus-dará - FOLHA DE SP

A passagem da infância para a adolescência, a que correspondem os quatro anos que antecedem o ensino médio, constitui um desafio para todo tipo de escola. Alunos que se situam, grosso modo, na faixa dos 11 aos 14 anos se defrontam, em ritmo que varia de indivíduo para indivíduo, com um mundo que lhes parece cada vez mais complexo e em que, passando por rápidas mudanças na mentalidade e no organismo, não sabem exatamente como se situar.

 

Como informa caderno especial sobre o tema publicado por esta Folha, o desempenho escolar nesse ciclo, medido pela Prova Brasil, encontra-se estagnado desde 2009.

Só 16% dos estudantes encerram essa fase com desempenho considerado aceitável em matemática; os índices de reprovação, em especial no sexto ano, tornam-se mais significativos; os alunos se sentem perdidos com a nova rotina (com professores diferentes para cada matéria), e toda essa etapa escolar parece situar-se num limbo.

São problemas fáceis de presenciar em qualquer instituição de ensino, mas a situação se agrava na rede pública, onde estudam 86% dos alunos matriculados no chamado ensino fundamental 2.

Diante de classes inquietas, quando não em plena balbúrdia, apresentam-se professores desmotivados não só pela sobrecarga letiva e pela remuneração insatisfatória. Pelo que, de forma pontual, observou-se nas reportagens, diversos outros fatores tornam inseguro, disperso, ocasional e tentativo o processo pedagógico.

A falta de material adequado era visível em algumas escolas públicas visitadas. A ausência de clareza quanto ao valor da matéria ensinada intensifica um sentimento de desnecessidade de que professores e alunos por vezes participam.

Nas últimas décadas, prevaleceu um espírito em que o saber conceitual, abstrato e intuitivo sobrepuja a ideia de que informação concreta e verificável é o que cumpre transmitir a alunos dessa idade.

Também se tornou impopular, e quase vexaminosa, a noção de que cumpre a mestres e diretores de escola zelar por mais ordem, disciplina e uniformidade de métodos em sala de aula. Alunos e professores, nesse ambiente, correm o risco de perder até mesmo a noção do que estão fazendo ali.

Se obviamente não se trata de fazer o elogio da repressão e do autoritarismo, é entretanto inegável que respeito à liberdade e autonomia não se confundem com frouxidão e desordem -de que resulta a nítida impressão de que, nessa etapa da vida escolar, o ensino se faz ao deus-dará.

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