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Futuro da política tributária está no topo das preocupações entre executivos brasileiros, aponta relatório

Vitor da Costa / O GLOBO

 

RIO — A incerteza em relação ao destino das politicas tributárias nos próximos meses está no topo das preocupações dos executivos brasileiros, superando até a própria pandemia e suas restrições. É o que mostra a 24ª edição da Pesquisa Global com CEOs, realizada pela empresa de consultoria e auditoria PwC com 5.050 diretores executivos de 100 países.

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Enquanto a discussão sobre uma possível reforma tributária ainda patina no Congresso Nacional, as incertezas em relação às políticas tributárias são consideradas a maior ameaça aos negócios por 56% dos líderes brasileiros.

Pandemia e outras questões sanitárias ocupam o segundo lugar, com 54%, seguidas por incerteza em relação a políticas (53%), aumento das obrigações tributárias (51%), crescimento econômico incerto (49%) e populismo (47%).

Para Marco Castro, sócio-presidente da PwC Brasil,  há o temor entre os gestores que os altos gastos realizados pelo governo para dirimir os efeitos nocivos da pandemia possam ser jogados no colo do setor privado, com o aumento dos impostos.

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Nesse sentido, 56% dos brasileiros concordam que devem repensar a estrutura de negócios de suas empresas em razão de mudanças na política tributária para lidar com o aumento da dívida do governo.

— A gente tinha a expectativa de várias reformas, que acabaram não tendo prosseguimento. E com o aumento de gastos pelos governos durante a pandemia, cresce a preocupação de que haverá uma compensação para reaver esses recursos. Então há um risco de uma reforma tributária contundente não ser realizada e essa é uma demanda antiga do empresariado brasileiro — ressalta.

Otimismo com a economia

Além da questão tributária, outro tema que ganhou destaque no levantamento foi o meio ambiente. No Brasil, onde o governo de Jair Bolsonaro recebe críticas constantes pela condução da política ambiental, o percentual de executivos preocupados com essa questão quase dobrou de um ano para o outro: 35 % dos entrevistados afirmam ter preocupação extrema com o assunto.

Apesar disso, o meio ambiente ainda ocupa a 13ª posição na lista de preocupações. E apenas 32% dos CEOs afirmaram levar em conta as mudanças climáticas no gerenciamento dos seus riscos estratégicos.

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Apesar das preocupações com a questão tributária e a pandemia, no que depender do prognóstico dos executivos, especialmente dos brasileiros, os próximos meses e até anos serão bons para a economia. Entre os entrevistados, 76% acreditam que a economia global vai ter um desempenho melhor em 2021. No ano passado, esse percentual era de apenas 22%.

O otimismo é ainda maior no Brasil, com 85% dos participantes acreditando que a economia global irá melhorar, mesmo com um cenário político incerto e a campanha de vacinação andando a passos lentos. Em 2020, essa taxa era de apenas 19%. 

A pesquisa contou com a maior participação de brasileiros já registrada – a oitava maior do mundo -, com as entrevistas sendo realizadas entre janeiro e fevereiro.

Para Castro, o otimismo nacional é justificado pela confiança dos líderes brasileiros de que o país conseguirá vencer os obstáculos da pandemia, com o início da campanha de imunização, além da criação de soluções que se fez necessária com a pandemia.

Uma alta de expectativa também poderia ser esperada, diante do cenário adverso do início de 2020.

— No olhar do executivo brasileiro, nós conseguimos superar a pior fase da pandemia e criar soluções. As empresas brasileiras conseguiram se adaptar, apesar das dificuldades. O Brasil deve ser um dos países que mais se beneficiou do avanço tecnológico nesse período. A própria questão do home-office, as pessoas perceberam que isso é um ganho, e as empresas também — explica Castro.

Castro reconhece, no entanto, que há obstáculos que ainda devem ser superados.

— A confiança dos executivos brasileiros se justifica porque o país continua sendo um local de oportunidades. Há capital lá fora que pode ser investido aqui e está cheio de gente querendo investir no país. Ainda existem áreas carentes de investimento como infraestrutura e consumo. O país é um grande mercado consumidor, jovem, e possui flexibilidade, o que reforça o lado otimista da pesquisa — explica.

Segurança cibernética

No mundo, as ameaças à economia variam de acordo com a região, sofrendo uma grande alteração em relação a anos anteriores. Como já era esperado, na lista desse ano, a pandemia e outras questões sanitárias aparecem em primeiro lugar com 52%, seguida pelas ameaças cibernéticas, (47%), excesso de regulamentação (42%), incerteza política (38%) e crescimento econômico incerto (35%).

Ganharam importância a incerteza em relação às políticas tributárias (31%) e a “missinformation’ (28%). No Brasil, está última opção foi indicada como causa de “muita preocupação” por 34% dos entrevistados, enquanto outros 42% se disseram preocupados.

Preocupação com segurança cibernética aumenta à medida que empresas trabalham em um contexto de mais conexão. Foto: Bloomberg Creative Photos / Agência O Globo
Preocupação com segurança cibernética aumenta à medida que empresas trabalham em um contexto de mais conexão. Foto: Bloomberg Creative Photos / Agência O Globo

Como explica Castro, o conceito poderia ser definido como a informação errada ou incompleta repassada a alguém com ou sem intenção, afastando-se, portanto, do uso do termo “fake news”, que é usado de forma recorrente na sociedade.

A preocupação com os ataques cibernéticos em um mundo onde as empresas estão mais conectadas também cresceu.

— A gente viu várias empresas lá fora sendo atacadas e o trabalho para recuperar isso é muito difícil.  Os ambientes virtuais estão mais vulneráveis e então era natural o crescimento dessa preocupação — destaca o especialista, em um cenário onde o vazamento de dados de indivíduos e empresas vêm crescendo.

Transformações Digitais

O aumento da preocupação em relação às ameaças cibernéticas é acompanhado pelo emprego de tecnologia das empresas, especialmente durante a pandemia. Cerca de 49% dos CEOs globais e 61% dos brasileiros projetam aumentos de 10% ou mais nos investimentos em transformação digital.

Entre os brasileiros, a preocupação em aumentar gastos com a segurança cibernética e privacidade de dados em 10% ou mais chega a 47%, acima dos 31% entre os líderes globais.

O emprego de tecnologia, aliás, deve ser um dos pontos a ser mais observados pelos empresários nos próximos meses, intensificando um processo já em curso com as mudanças geradas pela Covid-19. Os brasileiros ampliam a crença em eficiência operacional, crescimento orgânico e desenvolvimento de novos produtos e serviços para impulsionar a expansão.

Com a pandemia, prática do home office ganhou força entre as empresas e deve continuar em alguns setores. Foto: OLI SCARFF/ 05/03/2021 / AFP
Com a pandemia, prática do home office ganhou força entre as empresas e deve continuar em alguns setores. Foto: OLI SCARFF/ 05/03/2021 / AFP

 — O empresariado brasileiro quer que seu negócio cresça organicamente, desenvolvendo novos produtos. A gente ainda não tirou total proveito das ferramentas tecnológicas  e isso será um diferencial daqui para frente. O avanço tecnológico vai permitir a aceleração da eficiência. Nós não vamos voltar a ter o mesmo ambiente de negócios do período anterior ao da pandemia — afirma o especialista.

Mais contratações

No Brasil, apenas 31% dos entrevistados confirmaram a ocorrência de novas contratações no último ano, mas esse quadro deve mudar. Perguntados sobre as expectativas para o próximo ciclo de doze meses, 48% dos líderes nacionais esperam um aumento moderado das contratações (3% a 9%) e 14% preveem um aumento forte (maior que 10%).

Em relação aos próximos três anos a situação é ainda melhor: 51% consideram que irá ocorrer um aumento moderado e 31% acreditam num crescimento forte, o que pode ser um alento frente a um contexto de taxas recordes de desemprego em 2020.

Ainda na temática da força de trabalho, a criação de uma equipe qualificada, educada e adaptável está no topo da lista dos líderes, principalmente com o emprego de mais investimentos digitais. No Brasil, para 45% dos entrevistados, a produtividade da força de trabalho deve ser melhorada por meio da automação e tecnologia.

Os brasileiros, por sua vez, estão menos preocupados que a média global em dois aspectos que vêm ganhando peso na discussão sobre a formação de equipes: foco em diversidade e inclusão (14%) e preparação de líderes para o futuro (13%). Os CEOs globais consideram estes dois tópicos mais importantes, com índices de 25% e 26%, respectivamente.

CEOs esperam aumentar ritmo de contratação ao longo dos próximos três anos. Foto: Infoglobo
CEOs esperam aumentar ritmo de contratação ao longo dos próximos três anos. Foto: Infoglobo

Apesar dos números ainda modestos, especialmente levando em conta que a maioria absoluta dos CEOs é formada por homens, Castro acredita que essa pauta ganhará força:

— A pauta da diversidade vai ganhar tração porque a sociedade exige isso. E o mais importante são os compromissos públicos que as empresas estão assumindo e a preocupação em fazer com que os funcionários se sintam bem dentro das companhias.

Cenário Global

Os entrevistados acreditam que haverá um resfriamento das tensões comerciais, mas há ressalvas. O conflito comercial ainda é uma das dez maiores ameaças na China e na Alemanha, ambas dependentes do crescimento impulsionado pelas exportações.

Além disso, os padrões de comércio e parcerias estão mudando. Por exemplo, os CEOs nos EUA estão reduzindo sua ênfase na China como um motor de crescimento e aumentando o foco no Canadá e no México. Em comparação com a última pesquisa, o interesse dos CEOs americanos nestes dois países aumentou 78%.

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Para os líderes globais, os EUA retomam a liderança como o principal mercado para crescimento (35%, ante 30% em 2020), ampliando a vantagem sobre a China (28%, ante 29% no ano passado). Já para os brasileiros, o mercado americano continua sendo o principal (40%), com vantagem igual sobre a China (33%). A Alemanha também ocupa o terceiro lugar, com 13%, mas seguida por Argentina (9%), México (8%) e Índia (7%).

 

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