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Para voltar às aulas, é preciso superar desconfianças

O ano letivo começa nesta ou nas próximas semanas com a comunidade educacional ainda mobilizada em torno da mesma dúvida desde o início da pandemia: já devemos reabrir escolas para receberem presencialmente os alunos? Debates não se restringem ao Brasil, mas aqui temos como agravante a falta de confiança em nossas instituições.

Esse sentimento não surge do nada. Ao longo do ano passado, foram vários sinais contraditórios. Enquanto bares, academias, shoppings centers e afins eram autorizados a funcionar, escolas permaneceram fechadas, fazendo do Brasil um dos países por mais tempo sem aulas presenciais. Tampouco nos ajudou o negacionismo e a omissão do governo federal e o vai-e-vem de liminares da Justiça.

Nossos governantes têm sem dúvida enorme responsabilidade, mas expiar a culpa jogando-a toda sobre os ombros dos políticos é um dos esportes nacionais preferidos. Somos também responsáveis, com nossos atos e escolhas cotidianas, pelo quadro em que nos encontramos. No caso do fechamento presencial das escolas, sequer podemos atribuir apenas aos governantes essa decisão, pois as pesquisas de opinião mostraram ao longo do ano passado que ela era respaldada por três em cada quatro brasileiros.

A decisão pelo retorno ou não sempre foi cheia de nuances e complexidades, com argumentos válidos de ambos os lados. De início, quando quase nada sabíamos a respeito a respeito da Covid, poucos discordavam de que o mais prudente era interromper as atividades presenciais. Aos poucos, estudos em países desenvolvidos foram indicando que crianças tinham papel menor na transmissão do vírus e que as escolas, quando preparadas para cumprir adequadamente protocolos sanitários, não contribuíam para o aumento geral de casos. 

O mais recente desses estudos foi divulgado no mês passado pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês). A boa notícia do artigo – publicado no Jornal da Associação Americana de Medicina – foi a constatação de que, mesmo em locais onde a contaminação estava crescendo, não foram registrados casos significativos de transmissão em escolas que seguiram os protocolos recomendados. Os relatos mais graves por lá aconteceram em colégios que fizeram eventos esportivos – como torneios de Luta Olímpica – que geraram aglomerações.

É claro que a interpretação desses resultados para o contexto brasileiro precisa considerar nossa realidade. Um dado da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar, do IBGE, mostrou que 43% dos alunos da rede pública não tinham sabão na escola. O percentual é referente a 2015, e não necessariamente retrata a realidade hoje, mas a capacidade de nossas escolas de se adequarem aos protocolos é uma das questões que alimentam a insegurança sobre o retorno. (Aliás, sobre escolas sem sabão, cabe aqui a reflexão de como fomos capazes de aceitar algo tão indigno).

Além da adequação sanitária e das estratégias pedagógicas, uma parte fundamental do trabalho dos responsáveis pela rede pública de ensino hoje é convencer a sociedade de que as escolas estão realmente preparadas para o retorno. E, além disso, ajudaria bastante também colocar professores entre os grupos prioritários de vacinação. Seria uma mensagem importante de que, neste ano, educação será realmente prioridade.

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