Busque abaixo o que você precisa!

Prefeitura de SP prevê 'revolta' de profissionais de saúde por falta de vacina contra covid

Bruno Ribeiro e João Prata, O Estado de S.Paulo

21 de janeiro de 2021 | 11h00

Prefeitura de São Paulo espera “uma revolta” por parte de profissionais da saúde nos próximos dias diante da pouca quantidade de doses de vacina contra a covid-19 enviada ao município. O montante não é suficiente para vacinar nem metade das equipes na linha de frente contra o novo coronavírus. O secretário de Saúde, Edson Aparecido, também diz que locais como o Hospital das Clínicas, por exemplo, têm recebido um número de vacinas proporcionalmente maior do que as redes municipal e privada. O sindicato que representa os médicos critica o fato de não haver planos claros para a vacinação dos profissionais. 

LEIA TAMBÉM

Capacidade de produção de vacina contra covid em SP está esgotada, diz gestão Doria

Capacidade de produção de vacina contra covid em SP está esgotada, diz gestão Doria

A cidade tem cerca de 500 mil funcionários do setor na linha de frente, calcula a Prefeitura. São mais de 6 mil leitos de enfermaria e em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) nas redes pública e privada. Mas a cidade recebeu apenas 203 mil doses da Coronavac, distribuídas pelo Instituto Butantan. As primeiras doses estão sendo aplicadas mesmo sem a Prefeitura ter recebido os frascos da segunda dose, caso contrário o público protegido seria ainda menor. 

ctv-xy5-clinicasp
Operação montada para aplicação da vacina no Hospital das Clínicas espera imunizar milhares de funcionários Foto: TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO

“Todos estão revoltados, é uma coisa impressionante”, diz o secretário municipal da Saúde, Edson Aparecido, que está encarregado de distribuir essas 203 mil doses e que tem ouvido as reclamações. “Se o critério fosse populacional, deveríamos receber dois lotes de 380 mil nesta primeira etapa”, complementa.

“Pode ter uma reação dos profissionais de saúde grande. É um fator de insegurança. Eles estão nessa frente há 12 meses” continua Aparecido. Segundo ele, parte do fator de revolta entre os profissionais de saúde se deve a essa suposta divisão dentro da cidade: no Hospital das Clínicas, onde a campanha de imunização teve início e onde a gestão é de responsabilidade direta do governo João Doria (PSDB), toda a equipe estaria vacinada. “Estudantes de quinto ano, médicos que estão em home office há oito meses”, segue Aparecido. 

vacina
Profissionais da linha de frente vacinam e são vacinados no HC de São Paulo Foto: Tiago Queiroz/ Estadão

Diante do número baixo de vacinas, a Prefeitura decidiu adotar a estratégia de usar todo o imunizante disponível para vacinar o máximo de pessoas possível, sem guardar metade do material para a 2ª dose. “Recebemos 203 mil (doses), vamos vacinar 203 mil pessoas. Daqui a 14, 15 dias, vamos receber mais 203 mil. E aí a gente dá a 2ª dose”, complementa o secretário, que diz ter recebido a garantia do Estado sobre a chegada das futuras remessas. 

O Butantan, que produz as vacinas com base em insumos vindos da China, aguarda autorização da Anvisa para distribuir mais 4,8 milhões de doses da Coronavac para a Secretaria Estadual da Saúde paulista e para o Ministério da Saúde. Esgotado esse material, porém, ainda não há certeza de quando novas doses estarão disponíveis, uma vez que há atraso no envio de matéria-prima chinesa. Doria tem pressionado o governo Jair Bolsonaro para articular uma solução diplomática para o impasse. Aparecido disse que é equivocada a ideia de que há vacina para todos. “Tem de lidar com a realidade”, afirmou. 

  

Presidente do Sindicato dos Médicos de São Paulo, Victor Dourado diz que a preocupação vai além da vacinação da própria categoria. “Há outros profissionais de saúde que também precisam de atenção”, afirmou, citando pessoal de limpeza e de atendimento aos pacientes que chegam aos centros médicos com os sintomas da covid. Destacou que, mais do que a falta de imunizantes para todos, o sindicato avalia que não há clareza sobre o plano de vacinação e os critérios usados para a escolha dos profissionais que vão receber primeiro a vacinação. “Existe uma mesa de trabalho que está acompanhando a situação”, afirma Dourado, que tem feito reuniões periódicas e inclui os demais profissionais.

Estado diz que estratégia considera limitação de imunizantes

Em nota, o governo do Estado informou que “a campanha de vacinação contra covid-19 tem como referência o número de pessoas imunizadas contra a gripe em 2020 indicado pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI). Assim, o Ministério da Saúde utiliza este critério para envio aos Estados, e o mesmo ocorre em São Paulo para redistribuição às Prefeituras”. 

Segundo o texto, o ministério da Saúde reservou ao Estado cerca de 1,3 milhão de doses da Coronavac, o suficiente para imunizar apenas 650 mil pessoas. “Consequentemente, o mesmo critério precisou ser adotado de forma equânime para todas as 645 cidades."  Por isso, diz o governo, a recomendação é que apenas profissionais de saúde sejam vacinados. Novas remessas serão destinadas à Prefeitura à medida que o ministério "viabilizar mais doses, o que permitirá também a expansão de públicos-alvo e a imunização da totalidade dos profissionais de saúde.”

Sobre a suposta preferência aos profissionais do HC, a nota afirma que estão sendo vacinados os profissionais que têm contato com pacientes contaminados pelo coronavírus e que o complexo “não aderiu ao esquema de home office”. 

Vizinho ao HC, Emílio Ribas vive ansiedade por entrega

O Instituto de Infectologia Emílio Ribas não recebeu nessa quarta-feira, 20, doses da Coronavac para imunizar os profissionais da saúde. Embora a unidade seja estadual, a Prefeitura está responsável pela entrega, pelo fato de o hospital ser referência no tratamento da covid.  A gestão municipal não justificou o problema. 

 Na terça-feira, 19, foram entregues as primeiras 200 doses. A expectativa dos médicos do instituto é que a nova remessa chegasse pela manhã de quarta. Mas ninguém foi informado se houve problema de logística. Residentes - são 60 na unidade, no total - vinham cobrando a coordenação sobre os prazos para imunizar a equipe. Por volta das 20h, os profissionais da saúde receberam a informação de que mais 200 doses chegaram e que a imunização continuaria nesta quinta-feira, 21, das 7h às 20h.

O Emílio Ribas é vizinho do HC, onde a enfermeira Mônica Calazans foi primeira pessoa do País a ser imunizada com a Coronavac no domingo, 17, logo após a autorização emergencial de uso do imunizante pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O Hospital das Clínicas já vacinou mais de 9 mil funcionários. 

Compartilhar Conteúdo

444