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O escandaloso reajuste no salário dos prefeitos

O aumento salarial para os prefeitos de pelo menos seis capitais, a começar pelos 47% concedidos a Bruno Covas (PSDB), de São Paulo, comprova que os interesses das castas e corporações políticas são mais resistentes que titânio, ósmio ou irídio. Não importa que o mundo e o país enfrentem a maior pandemia em um século, com efeitos desastrosos nas contas públicas e na vida da população. Não importa que a crise fiscal tenha deixado o Estado brasileiro à beira da bancarrota. Nada disso parece ter a menor importância diante da permissão legal para elevar o próprio salário.

Com reajuste aprovado pelos vereadores, Covas sancionou o aumento em seus próprios vencimentos. De R$ 24,1 mil, passa a receber R$ 35,4 mil. Prevalecesse uma visão minimamente ética do governo, não haveria dinheiro nos cofres públicos para aumentar salários de servidores, tampouco de governantes. As prioridades deveriam ser outras, a saúde em primeiro lugar. Mas a seriedade administrativa parece ter ficado nos palanques depois da vitória eleitoral.

Uma vez elevado o salário do prefeito, várias categorias de servidores também se beneficiam por reajustes em cascata. No caso de São Paulo, 5 mil servidores da elite do serviço público pegarão carona no aumento de Covas, inflando o custo real do reajuste para R$ 500 milhões ao ano, pelas contas do gabinete do vereador Paulo Police Neto (PSD). São recursos que deveriam ter outro destino diante do avanço do novo coronavírus, que forçou o estado e a cidade de São Paulo a endurecerem as medidas de contenção.

Naturalmente, São Paulo não está sozinha na onda de reajustes natalinos. Tucano como Covas, Arthur Virgílio, se não vetar, passará a administração de Manaus a David Almeida (Avante) com o salário do prefeito e do vice reajustados em 50%. Em Salvador, o aumento foi mais modesto. A Câmara elevou em 1,08% a remuneração do prefeito, do vice e estendeu a medida aos secretários. Mas o percentual disfarça o custo real da benesse para os cofres municipais. Caberá ao eleito Bruno Reis (DEM) administrar o impacto do efeito em cascata nas contas do município. Em Curitiba, o prefeito reeleito Rafael Greca (DEM) já deve saber o preço para os cofres públicos do aumento linear de 3,14% aprovado pelos vereadores para todos os servidores públicos, aposentados e pensionistas.

Estava com razão o ministro da Economia, Paulo Guedes, quando defendeu que o Congresso incluísse, no pacote de ajuda a estados e municípios para compensar os efeitos da pandemia, o congelamento dos salários do funcionalismo durante mais um ano. Não conseguiu. Bolsonaro vetou os aumentos distribuídos por deputados e senadores, mas abriu exceção para sua base eleitoral, os policiais. Era um prenúncio do que está acontecendo.

Os mesmos políticos que, quando precisam, vão de pires nas mãos a Brasília atrás de dinheiro esquecem a penúria fiscal quando se trata de defender os próprios interesses e as corporações do funcionalismo.

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