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O líder das falcatruas - ISTOÉ

KALIL BH

Apesar de a Prefeitura de Belo Horizonte ter um orçamento de de R$ 13,7 bilhões, um dos maiores das capitais brasileiras, a cidade tem um crescimento desordenado e os seus habitantes não têm bons serviços públicos, sobretudo nas áreas da habitação, saúde, educação e transportes. À frente desse quadro desalentador da administração municipal está o prefeito Alexandre Kalil, que surge em meio a escândalos envolvendo empresas de seus sócios e contratação irregular de uma agência de turismo que paga, inclusive, suas viagens particulares. Cada vez mais, o prefeito adota a prática da velha política de agregar populismo à defesa de interesses escusos.

O prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PSD), 61 anos, terá grande dificuldade para convencer seus apoiadores a repetir o voto de 2016. Acusações às quais ISTOÉ teve acesso, o envolvem em escândalos com empresas que prestam serviços à Prefeitura, o que certamente abalará esse prestígio inicial na disputa. Uma fonte de ISTOÉ mostra as ligações imorais de Kalil com a contratação de empresas de sócios do prefeito. Apenas a Cadar Engenharia e Construções Ltda, administrada por Emir Cadar, sócio de Kalil, fechou dois contratos altamente escusos com a prefeitura: um de R$ 8,2 milhões e outro de R$ 18,1 milhões, totalizando R$ 26,3 milhões. A Cadar foi contratada para realizar obras de tapa-buracos, recapeamento de vias e pavimentação. Seus contratos sofreram absurdos aditivos que tornaram as obras ainda mais caras. A Cadar compõe um consórcio com Fergikal Ltda, de propriedade de Alexandre Kalil e seus familiares, que presta serviços de engenharia à administração municipal. Um escândalo que o Ministério Público já prepara-se para investigar.https://cdn-istoe-ssl.akamaized.net/wp-content/uploads/sites/14/2020/08/55-2-418x406.jpg 418w" sizes="(max-width: 1024px) 100vw, 1024px" style="box-sizing: border-box; margin: 0px auto; padding: 0px; font: inherit; vertical-align: baseline; display: block; height: auto; max-width: 100%; width: 879px;">

Hotel de luxo

Uma outra irregularidade praticada pelo prefeito é a contratação da agência de turismo Unitour, que pagou 13 viagens de Kalil ao Rio de Janeiro, com hospedagem e despesas em caríssimos restaurantes no luxuoso Hotel Copacabana Palace, um dos mais caros do Brasil. Apenas em uma viagem durante o réveillon de 2020 o prefeito gastou R$ 22.587,40. Somente um jantar custou R$ 3.491,40. A ostentação é frequente. No dia dos namorados de 2019, o prefeito também esbaldou-se no hotel. Essa mesma empresa pagava as viagens pessoais de Kalil quando ele era presidente do Clube Atlético Mineiro, prática que se mantém na prefeitura. As despesas pagas pela Unitour somam R$ 150.000, conforme notas fiscais obtidas por ISTOÉ. Em 2017, no primeiro ano da administração de Kalil, a Unitour fechou um contrato com a prefeitura no valor de R$ 1,2 milhão.

Na vida pessoal e empresarial, Kalil também tem negócios muito mal explicados. Ele acumula dívidas de mais de R$ 21 milhões em impostos, contribuições, multas e outros débitos. Apenas a Erkal Engenharia Ltda deve ao fisco federal e municipal cerca de R$ 3 milhões. Fergikal, Erkal e Alka, todas de sua propriedade, devem juntas outros R$ 3 milhões em dívidas trabalhistas e IPVA. Chama atenção o débito que ele tem com Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), da prefeitura, no valor de R$ 243 mil. Por essa dívida, Kalil já foi, inclusive, protestado pela prefeitura da cidade que administra, em agosto de 2019, em pleno exercício do cargo. Uma aberração. Como se vê, a administração do dinheiro público e dos negócios pessoais não é o forte do prefeito. Segundo balanço do Clube Atlético Mineiro, do período de 2008 a 2014, o então presidente da agremiação esportiva deixou um prejuízo de R$ 183 milhões durante os seis anos em que esteve à frente do time mineiro.https://cdn-istoe-ssl.akamaized.net/wp-content/uploads/sites/14/2020/08/60-2-418x427.jpg 418w" sizes="(max-width: 1024px) 100vw, 1024px" style="box-sizing: border-box; margin: 0px auto; padding: 0px; font: inherit; vertical-align: baseline; display: block; height: auto; max-width: 100%; width: 879px;">

Como não pagar dívidas faz parte do perfil de Kalil, em maio de 2019, ele teve penhorados 20% dos seus salários de chefe do Executivo Municipal, de R$ 31 mil, para pagar uma dívida trabalhista. Ele está sendo acionado na Justiça para pagar dívidas em 113 ações. Uma boa explicação para tantas dívidas está no seu estilo de vida extravagante e irresponsável. Kalil gosta de ostentação e de viajar em jatinhos, razão pela qual é investigado pelo Ministério Público Estadual por gastar R$ 158 mil, pagos pela prefeitura, em viagem particular feita por uma aeronave alugada pelos cofres públicos, conforme denúncia do ex-vereador Mateus Simões (Novo).

Péssimo gestor

Além do seu envolvimento com negócios escusos, Kalil é um péssimo gestor. Embora a prefeitura tenha um orçamento de R$ 13,7 bilhões, a cidade enfrenta graves problemas, desde a precária infraestrutura no atendimento básico até deficientes serviços de saneamento básico, além do caos nos setores essenciais da Saúde, Educação, Habitação e Transportes. No início do ano, durante as fortes chuvas que atingiram a cidade, 58 pessoas morreram e 8.259 ficaram desabrigadas em função do descaso da prefeitura em obras antienchentes. Do plano aprovado para o saneamento, com a previsão de gastos de R$ 1,3 bilhão, a administração de Kalil só utilizou R$ 260 milhões (20% do total estimado) para as obras de drenagem de água pluvial e esgotamento sanitário. Uma flagrante falta de planejamento e ação operacional.

Em matéria de transporte coletivo, a situação não é diferente. O setor entrou em colapso com a diminuição no número de ônibus circulando durante a pandemia. O resultado foi a aglomeração de passageiros nos terminais, o que possibilitou um aumento ainda maior do contágio da doença, sobretudo na periferia. Apesar disso, a tarifa de ônibus em Belo Horizonte, de R$ 4,75, é uma das mais caras do País.

A questão da segurança na cidade aponta para outro grave problema na capital mineira: o aumento da desigualdade social. “Enquanto a mortalidade dos jovens brancos é de menos 26%, o índice entre a juventude negra é de mais 47%”, segundo mostra o vereador Gilson Reis (PCdoB). Para ele, a insegurança em Belo Horizonte explicita a falta de prioridade em investimentos na periferia. A guarda municipal não sofreu nenhum aumento de efetivo, apesar do prefeito ter feito essa promessa durante a campanha eleitoral de 2016. Kalil não contratou nem mesmo os guardas aprovados em concurso público.

O combate à Covid-19 também deixou sequelas, especialmente entre os moradores mais pobres da cidade. Apesar de Kalil ter dito que não queria ficar conhecido como o prefeito que permitiu a morte de moradores belohorizontinos por coronavírus, o número de óbitos na capital foi de 855 (até 19 de agosto). A situação mais crítica aconteceu no dia 4 de julho, quando as Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) da cidade alcançaram uma ocupação alarmante de 92,8%. O vereador e médico Bernardo Ramos (Novo) denunciou que os recursos da prefeitura para o combate ao coronavírus não foram aplicados corretamente. Segundo ele, apenas 20% das verbas destinadas à Covid-19 foram utilizadas pela Secretaria da Saúde (R$ 27 milhões), enquanto que 71% dos recursos foram destinados à Secretaria de Segurança Alimentar e Cidadania (R$ 93 milhões). “Penso que teria sido uma escolha mais acertada se a prefeitura tivesse entregue o dinheiro diretamente para a população carente”, disse Ramos.

A pandemia da Covid-19 mostrou ainda o tamanho do abismo tecnológico da educação na iniciativa privada comparando-se com a rede pública. O vereador Gilson Reis, que é professor, aponta a necessidade da prefeitura se preparar para o retorno às aulas remotamente. Afinal, segundo ele, “uma ampla parcela dos alunos das escolas municipais não têm acesso ao ensino virtual”. Outro problema é a inclusão de jovens: não há uma política adequada de busca e acolhimento da juventude. A educação infantil, por exemplo, é problema para o qual o município não encontrou soluções. Há uma fila de espera de 3.620 crianças por vagas em creches.

10 mil pessoas moram na rua

O aumento de moradores nas ruas também vem atingindo proporções alarmantes no centro da cidade. Cresceu de 4 mil para 10 mil pessoas, apenas durante a atual gestão, conforme estimativa da deputada Áurea Carolina (PSOL), uma das candidatas ao cargo ocupado atualmente por Kalil.

Apesar da má gestão e das falcatruas do prefeito, o mais recente levantamento eleitoral feito pelo Instituto Paraná Pesquisas, realizado em julho, mostra Kalil liderando a disputa com 56,5% das intenções de voto. Mas quando a campanha começar e ele tiver que explicar seus malfeitos, certamente esses índices cairão. Em segundo lugar, com 6,7%, aparece o jovem deputado estadual João Vitor Xavier (Cidadania), de apenas 38 anos. A terceira colocada é a deputada federal Áurea Carolina (PSOL), com 4,4%. Ela é ainda mais jovem, com 36 anos. Apoiado pelo governador do estado Romeu Zema (Novo), está Rodrigo Paiva (Novo), de 56 anos, que aparece em quarto lugar com 3,7%. O deputado estadual Professor Wendel Mesquita (Solidariedade) é outro jovem no pleito, com 40 anos, que aparece com 2,2%. Esses jovens postulantes ao cargo surgem como uma esperança de renovação da velha política posta em prática pelo atual prefeito. Kalil é um político da moda antiga, em que os métodos populistas, aliados ao mau uso dos recursos públicos, tem dado o tom do descalabro administrativo das grandes cidades brasileiras.

Expulso do PSL, o deputado Bruno Engler (PRTB) aparece com 2,1%. Ele é o mais jovem candidato entre todos na disputa, com apenas 23 anos. Tem o apoio declarado do presidente Bolsonaro. O PT e o PSDB, partidos que nas últimas décadas sempre disputaram a ponta nas pesquisas, e frequentavam o segundo turno, desta vez aparecem muito mal colocados. Aos 73 anos, o ex-deputado Nilmário Miranda (PT) tem apenas 2% das intenções de votos. Já a tucana Luisa Barreto, de 36 anos, deixou a Secretaria de Planejamento do Governo do Estado para disputar a prefeitura e está com somente 0,7% nas pesquisas. Em último lugar, aparece o empresário Marcelo de Souza (Patriota), com 0,1%. Eventuais coligações podem mudar o panorama eleitoral, que deve ser alterado substancialmente para a disputa.

Segundo cientistas políticos de Minas Gerais, a vantagem do prefeito Kalil deve cair tão logo comece a campanha eleitoral. Ele só tem um percentual maior porque é o único que aparece diariamente na mídia mineira e utiliza a máquina pública para promover sua campanha à reeleição. Além disso, a maioria dos adversários do prefeito é jovem e desconhecida da grande massa de eleitores da cidade.

Sem dar muito crédito aos números do levantamento eleitoral, o deputado estadual João Vitor Xavier (Cidadania) diz que a pesquisa revela apenas quem é mais conhecido. Ele diz que o prefeito terá que explicar, na campanha, porque inchou a máquina pública com funcionários recrutados na esquerda. “A imensa maioria dos assessores trazidos por Kalil é formada por petistas históricos. Pior, o setor da Cultura de Belo Horizonte, por exemplo, saiu das mãos do PT e foi parar no PSOL, que é ainda pior. É a famosa melancia: vermelha por dentro”, disse o deputado. Xavier garante “o prefeito vai ter que explicar as compras emergenciais que fez sem concorrência”, disse .

Áurea Carolina (PSOL), eleita deputada federal em 2018 e que já havia sido eleita como a vereadora mais bem votada da cidade em 2016, pretende usar essa expressiva votação para fazer frente ao favoritismo de Kalil até aqui. Para ela, essa preferência não se manterá. “As prioridades da cidade estão distorcidas. O prefeito não atende as demandas da periferia”. O sonho dela é formar uma frente de esquerda.

Prefeito boquirroto

Os adversários de Kalil contam também com sua postura politicamente incorreta. Afinal, o prefeito é conhecido por verbalizar frases com agressões à mulheres e minorias. Quando era presidente do Atlético Mineiro, em 2013, ele ofendeu as mulheres ao compará-las com a taça que o clube ganhou na conquista da Libertadores da América. “Esta taça é muito melhor do que mulher, até porque ela acorda calada”, comentou Kalil. E hostilizou os torcedores do Cruzeiro, time rival, com ofensas a portadores de deficiências físicas: “Me dou bem com todos, ninguém é culpado de ser cruzeirense. É igual a ser aleijado”. Como se vê, a disputa em Belo Horizonte está apenas começando e certamente o quadro eleitoral tende a mudar muito daqui até 15 de novembro, data do primeiro turno.https://cdn-istoe-ssl.akamaized.net/wp-content/uploads/sites/14/2020/08/57-2-620x1536.jpg 620w, https://cdn-istoe-ssl.akamaized.net/wp-content/uploads/sites/14/2020/08/57-2-827x2048.jpg 827w, https://cdn-istoe-ssl.akamaized.net/wp-content/uploads/sites/14/2020/08/57-2-418x1035.jpg 418w" sizes="(max-width: 1024px) 100vw, 1024

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