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Clube autoritário - FOLHA DE SP

O DITADOR DA VENEZUELA

A certa altura da carta que enviou ao Foro de São Paulo em julho, por ocasião dos 30 anos do grupo, hoje integrado por 123 partidos de esquerda da América Latina e do Caribe, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) dizia: “Mais do que nunca, é o momento de defendermos e recuperarmos a democracia em nossos países”.

O chamado, com algo de desfaçatez, arrastava consigo uma histórica contradição do Foro: discursar a favor dos regimes democráticos enquanto abriga forças autoritárias. O mais recente atestado desse paradoxo materializou-se no debate promovido pela organização em 28 de julho.

O encontro virtual, mediado pela secretária-executiva do grupo, a petista Mônica Valente, teve como seus principais astros os ditadores Nicolás Maduro, da Venezuela, e Daniel Ortega, da Nicarágua, além do líder oficial da ditadura de Cuba, Miguel Díaz-Canel.

Qualquer dúvida que pudesse existir quanto à índole ditatorial de Maduro desapareceu em 2017, com a supressão dos poderes do Legislativo, da repressão aos opositores e do cerceamento da imprensa.

Ex-guerrilheiro, Ortega voltou ao cargo máximo de seu país em 2007, 17 anos depois de ser derrotado nas urnas por Violeta Chamorro. Consolidou-se no posto com mudanças constitucionais, cassações e um pleito marcado por irregularidades em 2016. A exemplo de Maduro, reprime a oposição com brutalidade e persegue a mídia.

Por fim, o Foro está incontornavelmente ligado à ditadura cubana, que dispensa apresentações. Sua origem, recorde-se, em 1990, remonta a uma conversa entre o então ditador Fidel Castro e Lula, que, havia pouco, perdera a disputa presidencial para Fernando Collor.

A despeito de sua relevância duvidosa, o grupo segue sendo visto pelas vertentes direitistas identificadas com o bolsonarismo e o seu principal guru, Olavo de Carvalho, como um perigoso aliado de uma suposta ameaça comunista —e uma justificativa em potencial para pregações autoritárias também do outro polo ideológico.

Entretanto o Foro é coisa mais banal. Trata-se tão somente de um consórcio dedicado à perpetuação de ideias obsoletas e que, sem pejo, mantém suas portas abertas para ditaduras e ditadores.

A opção por se manter parte de tal clube mina a credibilidade da defesa que o PT faz da democracia, respeitada durante os 13 anos de administrações do partido.

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