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Benefício emergencial expõe usina de fraudes com o dinheiro público

O anúncio de que o governo federal excluiu do pagamento do auxílio emergencial 565 mil pessoas diz muito sobre os descaminhos do dinheiro público no Brasil. O benefício pago a brasileiros que perderam o emprego ou ficaram privados de exercer suas atividades devido às medidas de restrição para conter a transmissão da Covid-19 é medida necessária, não resta dúvida. Estados Unidos e países da Europa afetados pela pandemia já tinham adotado iniciativas semelhantes para amparar os cidadãos diante de uma crise sanitária, econômica e social sem precedentes.

Ainda que se reconheçam as falhas para fazer o dinheiro chegar até os beneficiários — as longas filas diante das agências da Caixa, provocando aglomerações que deveriam ser evitadas, as pessoas que não conseguiram receber o auxílio, os problemas com o aplicativo etc. —, a medida cumpre o seu objetivo de atenuar o impacto devastador da pandemia nas camadas mais vulneráveis da população. Tanto que será prorrogada. Mas surpreende o tamanho da fraude. Para se ter ideia, o número de pessoas que supostamente receberam o benefício de R$ 600 indevidamente daria para encher uma cidade como Niterói (513.584 moradores).

Menos mal que a irregularidade tenha sido detectada. Porém, chama a atenção o fato de o governo, com todos os meios de que dispõe para evitar fraudes, não ter agido de antemão, já que os os candidatos foram submetidos aos costumeiros trâmites burocráticos. Como informou o “Jornal Nacional”, da lista de beneficiários constam presos, brasileiros que moram no exterior e cerca de 400 mil funcionários públicos — só no Maranhão, são 85 mil, entre os quais estão um auditor da Receita estadual com salário superior a R$ 34 mil, um médico e um major da PM.

A descoberta — feita por meio do cruzamento de dados do governo com os dos Tribunais de Contas estaduais — parece ser apenas a ponta de uma usina de fraudes que transforma dinheiro público em pó. Há dúvidas se esses milhares de servidores de fato pediram o benefício, ou se também foram vítimas de golpes. Suspeita-se de que parte deles seja funcionário fantasma e vague pelas folhas de pagamento de órgãos públicos.

Estima-se que o prejuízo em todo o país chegue a R$ 280 milhões. Desse total, o governo afirma ter recuperado R$ 60 milhões de pessoas que receberam o auxílio indevidamente. Somado aos vergonhosos desvios de recursos para compra de respiradores na pandemia, o episódio compõe um quadro desolador do país. Portanto, tão importante quanto auditar os benefícios, reaver o dinheiro e responsabilizar os fraudadores, é combater esse mal que corrói a sociedade brasileira. Porque a corrupção também mata. O GLOBO

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