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Respiradores comprados para tratar pacientes com Covid-19 em Niterói não devem ser usados em UTI, diz fabricante

Por Anita Prado e Rogério Coutinho, RJ1

A empresa importadora e a fabricante dos 80 respiradores adquiridos pela Prefeitura de Niterói, na Região Metropolitana do Rio, afirmam que nenhum dos aparelhos deve ser usado em Unidades de Terapia Intensiva (UTI).

O site de uma empresa brasileira que importa da empresa chinesa o produto diz: "o ventilador shangrila 510s deve ser usado nas enfermarias comuns, fora do hospital e no transporte entre hospitais".

A chegada dos equipamentos, importados da China para uma unidade especializada em Covid-19, foram celebrados pela administração municipal na última semana. Os aparelhos saíram de Pequim, capital da China, direto para São Paulo. No dia 29 de maio, chegaram no Hospital Oceânico, em Niterói.

No entanto, a empresa fabricante diz que os respiradores devem ser usados em emergências e transporte de pacientes. No quinto parágrafo da primeira cláusula dos dois contratos de compra, o texto não prevê uso dos equipamentos em UTIs.

"A contratante entende que o ventilador de transporte de emergência 510-s vendido pela contratada pode ser usado apenas para os seguintes objetos: adultos e crianças. Adequado apenas para os seguintes cenários: emergência, transporte de longa distância, transporte hospitalar, resgate em campo e resgate pós-desastre. Se a contratante usar o ventilador para objetos ou cenas fora da faixa acima, todos os riscos e perdas serão suportadas pela contratante", diz o contrato.

Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) instaurou um inquérito na segunda–ferira (8) sobre a compra dos aparelhos. O MPRJ pede que a Fundação municipal de Saúde de Niterói esclareça em 24 horas como os respiradores serão utilizados.

Em publicação nas redes sociais da prefeitura, a Fundação municipal de Saúde de Niterói disse que os aparelhos atendem às necessidades de pacientes críticos de Covid-19 e que os aparelhos já estão sendo utilizados nas urgências e hospitais municipais.

O médico instensivista Áureo do Carmo Filho explicou como o aparelho pode ser utilizado.

"O equipamento de transporte é menos confiável, ele é usado durante poucas horas. Quando o paciente, por exemplo, sai de uma emergência para uma UTI. Ou um transporte intra hospitalar, ou mesmo um ventilador que você usa na emergência. Você acabou de entubar um paciente, colocou ele na ventilação mecânica e usa um ventilador desse de transporte enquanto não leva para UTI. Quando chegar na UTI, a primeira coisa que vão fazer é colocar no ventilador da UTI", explicou o médico.

Valor acima do sugerido

A Fundação Municipal de Saúde postou ainda que o custo dos ventiladores está abaixo da média do mercado nacional e internacional, pois os aparelhos foram adquiridos diretamente com o produtor, sem intermediários.

Nos contratos, está escrito que a Prefeitura de Niterói desembolsou por cada respirador 23 mil dólares, quase R$ 115 mil na cotação atual.

No entanto, no site da marca chinesa de equipamentos médicos o valor sugerido é entre 4,5 mil e 8 mil dólares. Ou seja, a prefeitura de Niterói pagou 15 mil dólares a mais por cada aparelho. Como eram 80 aparelhos, o total desembolsado equivale a uma diferença de quase R$ 6 milhões na cotação atual.

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