Delação que Aras quer negociar e atinge amigo de Moro tem problemas jurídicos
A tentativa de acordo de delação premiada do advogado Rodrigo Tacla Duran, que atinge um amigo do ex-ministro da Justiça Sergio Moro, tem problemas jurídicos que podem resultar em uma nova derrota do procurador-geral da República Augusto Aras no Supremo Tribunal Federal. Na primeira delação que Aras assinou, com o empresário Eike Batista, a ministra Rosa Weber apontou ilegalidades e determinou que o acordo fosse refeito.
Dura disse ter pago a Carlos Zucolotto, amigo de Moro, para obter vantagens em seu acordo de delação premiada com a Lava-Jato. Causou estranheza a investigadores o fato de essa delação ser conduzida na Procuradoria-Geral da República, porque Tacla Duran, foragido desde 2016, não manteve relação direta com políticos de foro privilegiado. Sua atuação era de operador financeiro, lavando dinheiro no exterior para permitir o retorno dos recursos ao Brasil. Aras só tem competência para negociar delações premiadas que envolvam autoridades com foro privilegiado.
Se não houver nenhuma referência a esse tipo de alvo, o acordo tem que ser feito na primeira instância — no caso, na Lava-Jato de Curitiba. A primeira tentativa de acordo de Tacla não citava políticos com foro, o que significa que ele pode ter mentido antes ou estar mentindo agora, agravando sua situação.
O ponto mais problemático, do ponto de vista jurídico, é comprovar a "boa-fé" de Tacla Duran, para convencer o STF de que sua delação é válida. O advogado teve um mandado de prisão decretado em novembro de 2016 pelo então juiz Sergio Moro que nunca foi cumprido, pois ele estava já no exterior. Com dupla cidadania, vive em Madri. A Justiça brasileira tem enviado cartas rogatórias à Espanha para tentar intimá-lo nas quatro ações penas às quais Tacla Duran responde na Lava-Jato, e ninguém consegue localizá-lo. Com isso, os processos ficam suspensos. Considerar essa postura aceitável para um futuro colaborador seria "esdrúxulo", nas palavras de um investigador.
A boa-fé é mais difícil de ser comprovada diante dos relatos dos procuradores da Lava-Jato de Curitiba de que Duran mentiu às autoridades e tentou ocultar recursos. Aras usou esse argumento ao se manifestar contra a delação premiada do ex-governador Sérgio Cabral.
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