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Sem eficácia comprovada contra covid-19, azitromicina e ivermectina não devem ser tomados sem prescrição médica

Samuel Lima, especial para o Estado

11 de maio de 2020 | 16h41

Vídeo e postagens em circulação nas redes sociais recomendam o tratamento da covid-19 com azitromicina e ivermectina, remédios que não têm eficácia comprovada no combate ao novo coronavírus. Órgãos de referência alertam que ainda não há medicamento para prevenir ou tratar a doença e que o uso de remédios sem prescrição médica pode causar danos graves à saúde.

Um dos conteúdos enganosos foi compartilhado pelo ex-vereador de Jaboatão dos Guararapes (PE) Amauri Candido da Silva. Com duas caixas de remédios dispostas à frente, o homem sugere que o público “corra logo na farmácia mais próxima” em caso de enxaquecas, dores nas costas, falta de sensibilidade no paladar, coriza e febre. “Eu duvido que esses medicamentos não vai (sic) matar esse vírus”, afirma. O vídeo alcançou 740 mil visualizações e 140 mil compartilhamentos até a tarde desta segunda-feira, 11.

Nenhum dos medicamentos apontados é eficaz no tratamento da covid-19 até o momento, segundo os órgãos de saúde. A azitromicina é um antibiótico e, portanto, não ataca o novo coronavírus, já que antibióticos são indicados apenas contra bactérias. A ivermectina é usada para o tratamento de condições causadas por vermes e parasitas, sem relação com a covid-19.

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Vídeo enganoso de ex-vereador de Jaboatão dos Guararapes (PE) viralizou no Facebook. Foto: Reprodução

O que existem, de fato, são pesquisas com essas e outras drogas para descobrir se elas podem ajudar no combate da doença de alguma maneira. Porém, ainda não há resultados conclusivos, o que descarta a possibilidade de uso na prevenção ou no tratamento pela população, especialmente sem prescrição médica.

A ivermectina foi testada em estudo feito por pesquisadores da Universidade de Melbourne e do Hospital Royal Melbourne, na Austrália, que demonstrou que o medicamento é capaz de matar o novo coronavírus in vitro. No entanto, os próprios cientistas pediram cautela sobre a descoberta e afirmaram que são necessários testes clínicos para avaliar a eficácia do remédio na prática, fora do laboratório.

Já a azitromicina foi combinada com a hidroxicloroquina em algumas pesquisas, obtendo resultados promissores. Assim, passou a ser defendida publicamente pelos presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e do Brasil, Jair Bolsonaro. Estudos recentes, porém, concluíram que o uso desses medicamentos não traz benefícios aos pacientes, e outra pesquisa em Manaus, no Amazonas, apontou para riscos cardíacos da associação.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), não há vacina, nem medicamento antiviral específico para prevenir ou tratar a covid-19. Os sintomas mais comuns da doença são febre, cansaço e tosse seca, enquanto algumas pessoas podem ter dores no corpo, congestão e corrimento nasal, dor de garganta e/ou diarreia. Veja aqui outras dúvidas comuns sobre a doença.

Caso apresente sintomas leves, não há necessidade de procurar atendimento médico — basta ficar em casa, praticar o isolamento e monitorar os sintomas. Em torno de 80% das pessoas se recuperam sem precisar de tratamento especial, informa a organização. A OMS indica atendimento médico imediato em caso de dificuldade de respirar ou de dor e pressão no peito.

Conselho Nacional de Saúde (CNS), vinculado ao Ministério da Saúde, e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) também já se posicionaram contra a automedicação com remédios ainda em fase de testes, em razão da possibilidade de intoxicação e de efeitos colaterais dos medicamentos, além do desabastecimento dos produtos para quem realmente precisa. Recentemente, reportagem do Estado mostrou que produtos sem eficácia comprovada tiveram aumento de até 180% nas vendas no primeiro trimestre de 2020.

Os potenciais efeitos adversos da azitromicina incluem falta de apetite, tontura, convulsões, dor de cabeça, sonolência, desmaio, distúrbios auditivos, palpitações e arritmias, vômito, diarreia e desconforto abdominal. Quanto à ivermectina, alguns pacientes podem apresentar diarreia, náusea, falta de disposição e de apetite, dor abdominal, sonolência, tontura, coceira e lesões na pele, diminuição da pressão arterial e aumento da frequência cardíaca, piora da asma, entre outros efeitos. 

As informações foram retiradas do bulário eletrônico da Anvisa. Por um lado, há riscos no uso, e por outro, nenhuma comprovação de que funcionem.

Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook  é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas:  apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.

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