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O mês em que o Brasil parou - O ESTADO DE SP

Acuados pela pandemia, milhões de consumidores se isolaram em casa, em março, e um recorde sinistro foi batido no comércio varejista. As vendas caíram 16,2%, no maior tombo registrado em um mês na série histórica da Serasa Experian, iniciada em 2000. “Com as pessoas ficando mais em casa e muitas lojas físicas fechadas, cai automaticamente o consumo, principalmente de itens não essenciais, como veículos e materiais de construção, que apresentaram a maior retração em março”, comentou o economista da Serasa Luiz Rabi. O tamanho dos males causados à economia real pelo surto do novo coronavírus começa a ficar mais claro, agora, com esses e outros poucos números já divulgados. A maior parte da informação publicada nas últimas semanas mostrou principalmente os impactos nas bolsas de valores e nos mercados financeiros e de câmbio. No mundo das coisas tangíveis, de comer, beber e usar, as primeiras contagens mostram grandes danos.

Houve estragos em todos os grandes segmentos do comércio, mas foram menos extensos no varejo de bens essenciais. As vendas caíram 8,1% em supermercados, hipermercados e lojas de alimentos e bebidas. As de combustíveis e lubrificantes diminuíram 5,5%. Em contrapartida, as de veículos, motos e peças despencaram 23,1% e as de material de construção, 21,9%. O mês também foi muito ruim para móveis, eletrodomésticos, eletroeletrônicos e informática (-19,3%) e para tecidos, vestuário, calçados e acessórios (-16,6%).

O governo demorou a reconhecer o novo coronavírus como grande risco para a saúde pública e para a economia. Mas houve medidas para prevenir uma quebradeira de empresas e para proteger o emprego. Empresas comprometeram-se a evitar demissões. Alguns cortes têm ocorrido. Faltam dados para estimar sua extensão, mas a piora das perspectivas já aparece no Indicador Antecedente de Emprego da Fundação Getúlio Vargas.

No mês passado esse índice baixou 9,2 pontos e chegou a 82,6, o menor nível desde junho de 2016, quando atingiu 82,2. Todos os seus componentes caíram e as maiores quedas ocorreram na avaliação da situação presente dos negócios e nas expectativas para os seis meses seguintes. No caso das médias móveis trimestrais houve um recuo de 22,4 pontos em relação ao dado de fevereiro, com interrupção de uma trajetória ascendente.

As condições de emprego já eram ruins no começo do ano, com desocupação de 12,3 milhões de pessoas, ou 11,6% da força da população ativa, no trimestre até fevereiro. Havia, no entanto, expectativa de melhora. Com a pandemia, as perspectivas mudaram e um desemprego maior é dado como certo, mesmo com medidas anticrise.

Nos próximos meses, segundo estimativas divulgadas nos últimos dias, a desocupação englobará um contingente adicional entre 2,5 milhões e 5 milhões de pessoas. Qualquer projeção é insegura, no entanto, porque as condições do mercado de trabalho vão depender da curva da epidemia e da duração de medidas como o isolamento social e as limitações ao funcionamento de empresas.

Se as autoridades continuarem seguindo as instruções da Organização Mundial da Saúde (OMS), as limitações à movimentação de pessoas serão relaxadas com muita cautela. Especialistas têm falado em restrições significativas até o fim de maio. Se houver pressa no relaxamento das normas, a atividade poderá intensificar-se mais cedo, mas por pouco tempo. Haverá o risco de uma explosão de casos graves e de mortes e de uma duração mais longa, afinal, dos efeitos da pandemia.

Por enquanto, são escassas até as informações sobre os danos econômicos de março. Mas os estragos têm sido certamente consideráveis. No fim da primeira quinzena, as vendas acumuladas no ano pelas montadoras de veículos eram 9% maiores que as de igual período de 2019. No fim de março o total acumulado era 8% menor que o de um ano antes. Não há, no entanto, saída rápida e fácil. Qualquer tentativa de reanimar a economia sacrificando vidas resultará em fracasso econômico, além de configurar, é claro, uma criminosa inconsequência.

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